Opinião

As reformas adiadas

Fazer reformas neste país, qualquer que seja o sector, levanta imediatamente um coro inaceitável de protestos corporativos, por parte de todos os dinossauros em seus interesses instalados.

Portugal passados que foram, quase cinquenta anos após a revolução de Abril, continua arreigado ao espírito corporativo que tinha representação e respaldo na segunda Câmara da Assembleia Nacional, no antigo regime.

As corporações portuguesas continuam a querer ser elas a impor a sua vontade e a boicotar toda e qualquer legislação reformista que não saia do seu seio.

As corporações são normalmente opositoras de reformas e não promovem internamente debates, tendo em vista melhorar a sua eficiência, mesmo que a sua eficácia seja nula ou que para ela caminhe a passos largos.

A Instituição Militar que conheço melhor, não é exceção a esta anquilosada forma de atuar e, a resposta normal a qualquer proposta de reforma é invariavelmente no sentido da resistência à mesma, dado haver uma desconfiança permanente em relação às reais intenções do poder político.

Reformar o que não funciona, o que é ineficiente, qualquer que seja o sector corporativo da sociedade, é um imperativo dos regimes democráticos, eleitos pelo povo para em nome deles legislar e governar.

Quando não se consegue reformar o estado, facto que implica sempre a cooperação da respetiva corporação ou instituição, que para o efeito deve possuir internamente grupos de reflexão estratégicos com visão para antecipar e mesmo colaborar nas reformas propostas de uma forma construtiva, leva a que o país se torne em todos os sectores ingerível e ingovernável, pois estas têm que ser feitas com as corporações/instituições, e não contra elas, e o espírito de abertura e de cooperação deve existir sempre, nos dois sentidos.

A permanente contestação das necessárias reformas no sector do estado, nada resolve e só gera e municia movimentos antidemocráticos adeptos da rotura revolucionária, pois quando há revoluções não há reformas , há roturas.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva