Opinião

Rui Rio enceta guerra interna a Carlos Carreiras

Em Portugal é muito difícil a um partido de poder ou a um que está habituado a estar no poder, em coligação, como o CDS estar na oposição.

Os líderes na oposição são sempre contestados, e há sempre a esperança que caiam antes de eleições governativas. Foi assim com José Seguro (PS), está a ser com Rui Rio (PSD), foi com Assunção Cristas e está a ser com o Rodrigues dos Santos(CDS), à semelhança doutros no passado, pois normalmente há sempre alguém à espera que o partido e o líder cumpram a maior parte do exílio na oposição para o desafiarem na altura certa, perto de eleições para as vencerem.

Qualquer partido que sai do governo tem de atravessar o deserto para lá voltar, e normalmente só volta ao governo, mais por demérito do partido e do líder que estiver no governo, ou seja, por desgaste implícito da governação, independentemente de quem seja o líder da oposição, do que por mérito próprio.

Rui Rio tem sido um líder da oposição mais quezilento, com a oposição passista interna do partido, do que com o governo, facto que não o tem ajudado nem tem ajudado o partido a organizar-se para reconquistar o poder.

Durante as lideranças de Rui Rio e de Assunção Cristas, surgiram dois novos partidos de direita, o Iniciativa Liberal e o Chega, dificultando ainda mais o papel dos dois líderes, dos dois partidos de direita convencionais, de conseguirem voltar a ganhar eleições e voltarem em coligação ao governo.

A maioria dos apoiantes e mesmo dos líderes destes dois novos partidos da direita, saíram das fileiras dos dois dos partidos de direita fundadores da democracia, PSD e CDS, por demérito deles e por guerras ideológicas internas.

Analisando o PSD, o principal partido da oposição, que considero o partido verdadeiramente português por ser, desde a sua génese, uma espécie de albergue espanhol, umas vezes afirmando-se social-democrata, muito embora o PS seja o partido que na Europa pertença a essa área ideológica, outras vezes querendo ser e afirmando-se como Popular, integrando na
Europa esse espaço, curiosamente em conjunto com o CDS, no Partido Popular Europeu, o que considero um contrassenso, outras vezes querendo ser e afirmando-se como liberal, tendo Pedro Passos Coelho, no período da sua governação, sido o paladino do neoliberalismo económico em Portugal.

Curiosamente, inicialmente, o PSD antes de pedir a sua integração no PPE na Europa, integrou o partido liberal europeu, facto que denota a dificuldade que tem tido em definir-se ideologicamente, pois a seu posicionamento depende da vontade e personalidade do líder.

Em termos de apoiantes, o PSD costumava congregar quase toda a panóplia de eleitores, desde os Sociais-Democratas aos da extrema-direita, de onde saiu o André Ventura do Chega.

Esta semana Rui Rio, curiosamente, decidiu iniciar mais uma crise interna no dilacerado PSD, ao criticar Carlos Carreiras, o Presidente da Câmara Municipal de Cascais, parecendo estar a fazer uma espécie de Haraquíri político, facto que António Costa e o PS agradecem, pois o líder da oposição, mais uma vez escolheu mal o inimigo, numa altura em que era altura de tocar a reunir para as autárquicas, em vez de tocar a dividir.

Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva.