Opinião

GRIPE/TOSSE E EXPECTORAÇÃO

HÁ COISAS ASSIM…”POTPOURRI” (5)

Cada dia que passa, mais gente tosse para cima de todos, e nós respondemos da mesma moeda. Tosse para aqui, tosse para ali… estamos num mundo de tosse.

Uns têm tosse que vem do interior, outros a tal tosse “cagalhoeira” fraca mas persistente e acompanhada por “tráques” mal cheirosos, daí o nome.

Não se trata de esmiuçar a qualidade das tosses, mas garantir ao leitor o cenário destes últimos dias de festa. Naturalmente com tosse. E por vezes o “tosse e caga” que acaba por nada dizer.

Ir ao médico, dantes era fácil ligava-se e marcava-se consulta, ou o médico passava por casa do doente, era a época dos domicílios…agora nem para marcar por telefone para o posto da Ericeira…

Temos mesmo de lá ir pessoalmente, para não duvidarem, pois pode ser uma chamada falsa.

Ali, somos recebidos por uma orquestra de tosse.

Poderia ser uma filarmónica tossativa tal o números de executantes. Várias escalas e variações de tanto tossir até quase ao desmaio. Dos baixos aos sopranos.

Ali a senha azul é que vale. E vale uma espera de muitas horas.

Em voz surdina ao doente do lado – Vou mas é a Mafra e atendem-nos logo.

Na…da… di…sso, responde-me em intervalos de tosse persistente. Já lá fui e está lá um reboliço que só falta bater nos médicos…

Esclareça-se: Bater nos médicos é uma nova moda que veio para ficar. Estranhou-se na altura…mas há que colocar policia nos locais de espera…pois o pessoal acordou e tanto tem esperado, que desesperado, facilmente começa uma rebelião. E se tal não aconteceu ainda … admira-nos muito. Pois até já avisámos vários médicos que estaria para breve. E acertámos.

Um deles, no Hospital Santa Maria, até me respondeu, por essas e outras é que vou trabalhar para o privado e até vou ganhar mais. Foi… e desde aí que tem sido a consulta adiada sine die.

Agora vejam centenas de doentes à espera, desesperados com “esperas” de mais de um ano e quando ao fim de várias horas, com consulta marcada, informam que a consulta foi adiada – O que é que se faz?

Talvez um sorriso, agradecer e acrescentar – “gostei tanto de aqui estar, levantei-me de madrugada para aqui estar na hora marcada, que provavelmente amanhã volto de novo, só para estar aqui no meio destes micróbios todos.”

Mas curiosamente apesar da tosse as conversas são como as cerejas, e entre cada tossidela uma conhecida da Vila confessou: Olhe só para ver como está o SAP de Mafra que já deve ter outro nome (andam sempre a mudar)… fui atendida após umas horas de espera e o médico pouco entendido na nossa língua assim que entrei, olhando para a minha cabeça apontou e perguntou: “Isso é um chapéu? – Não, retorqui, é uma boina. Ele não deve ter gostado da resposta porque disse em tom menos cordial: “Então diga o que quer, pois tenho muita gente para atender!” Eu respondi, mas ele, coitado, não percebeu nada: Olhe eu vinha para uma consulta mas enganei-me se calhar entrei numa mercearia, não?

Virei as costas e vim embora.

Entre médicos e doentes começa a haver uma guerra em que ninguém sai satisfeito nem vencedor. Ninguém entendeu que tem de haver equilíbrio e que precisamos todos uns dos outros.

Mal será quando um médico for a um restaurante ou concertar um automóvel a uma oficina e quem está à frente, é um seu doente mal tratado, ou mal atendido. Como será?

Claro que talvez os médicos sejam os menos culpados do estado a que chegou a saúde, ou melhor o Serviço Nacional de Saúde, que isto está tudo mal está.

Isto digo eu, não sei, que não sou nenhum malandro.

Helder Martins