Arte & Cultura Geral

Caixas de tempo – O tempo que o tempo tem

No passado domingo tivemos o prazer de ser convidados a fotografar o espetáculo de encerramento de época da Academia de Dança Susana Galvão Teles.

Um desfile de qualidade, beleza, simbiose entre bailarinos jovens e mais e experientes, acima de tudo, uma história contada sem palavras, com um alinhamento musical bem escolhido em função das coreografias escolhidas.

Sou da opinião que uma imagem vale mais do que muitas palavras, no entanto, deixo-vos, em jeito de sinopse, o texto de Inês Galvão Teles que nos introduz na história do que se passou na tarde de domingo no Auditório Beatriz Costa.

Quando nascemos, recebemos uma caixa cheia de tempo.

Nessa caixa estão anos, meses, dias, horas, minutos e segundos que se espalham pelo corpo dessa nova vida.

O problema destas caixas é que nem todas têm o mesmo tempo, nem todas estão no mesmo tempo e muitas vezes acabam por se desencontrar.

Para resolver esta confusão, os adiantados não se deixaram ficar: inventaram os relógios para ninguém mais se atrasar.

A cada dia que nasce um relógio, é mais uma caixa de tempo que é arrumada, ganha pó e fica eternamente à espera de voltar a ser aberta, para que lhe saltem os segundos, se espalhem os minutos e se prolonguem as horas pelos dias fora.

No alto de uma montanha verde e vibrante, uma caixa de tempo foi aberta.
E nunca mais foi arrumada.
Aquele corpo continha em si mesmo a hora de acordar, os minutos de brincar, os dias de aprender, os segundos de respirar. Tinha o seu tempo.
Todos os dias, a menina descia a montanha e cruzava-se com centenas dessas caixas amachucadas, mascaradas, regidas por pauzinhos comandados que fingiam ter o que não têm: tempo.

À primeira vista, tudo aquilo parecia funcionar. Agilizavam-se os encontros, limitavam-se as refeições, estabeleciam-se agendas para todos os corpos acordados.
No entanto, a rapariga só via vidas cansadas, olhos caídos e manchados de sono e os ombros curvados de quem por ela passava.

Até ao dia em que o inevitável aconteceu.

Parabéns por mais um grande espetáculo.

Fotografias e texto de Carlos Sousa/ KPhoto