Geral Opinião

A sociologia militar tem que ser estudada

Foto: IDN

Os militares do Quadro Permanente, e muito em especial, os oficiais, única e exclusivamente por causa do seu internato precoce em Portugal e em praticamente todos os países onde estive em trabalho e em vistas de Estado-maior, tem uma identidade própria, ou seja, para além do caráter identitário, que a maioria dos cidadãos têm que os define como nação, os militares estão à mercê da sua formação precoce em internato, e dos valores que lhes são paulatinamente transmitidos pelas gerações mais velhas, valores fundamentais para a sua cabal formação, conjugados com o juramento de defender com o seu sangue a pátria, criam uma identidade muito própria, que ao longo da sua vida se vai solidificando, densificando.

Muitas vezes, as identidades solidificam-se e afirmam-se na diferença em relação aos outros, que sem dificuldade passam a ser vistos com desconfiança, e com alguma, por vezes sobranceria ou sentimento de superioridade, a título de exemplo, grande parte da identidade nacional, forjou-se na oposição ao inimigo histórico, os Castelhanos.

Apesar das relações sociais que se estabelecem entre militares, e os militares de diferentes géneros, ter sido objeto de estudo da Academia, inclusive ter sido a tese de Doutoramento da atual Ministra da Defesa, há uma série de temas relacionados com a sociologia militar nomeadamente a relação entre as diferentes classes dos militares, oficiais, sargentos e praças, que não podem ser relações de castas, bem como a relação com o mundo civil, com os media, com os políticos, no sentido de dirimir problemas, integrar os militares na sociedade para que não se fechem no seu gueto, para acompanhar e os aproveitar quando transitam para a reserva, pois parece que de repente deixaram de ter o seu suporte, a sua família, enfim, uma panóplia de situações que a Academia e os políticos têm que estudar e resolver com a Instituição e sobretudo com as Associações Militares.

Termino este post com alguma perplexidade, após ter falado com um antigo comandante que me afirmou estar satisfeito de estar no lar do IASFA, pois sentiu que voltou para a Instituição, voltou para a família, para um ambiente de internato que conhece, voltou para a Academia aos 90 anos.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma