Opinião

“A Herdade” fiel retrato sociológico do país

Gosto de cinema, gosto de ver uma história bem contada, com sequência, intensidade e emoção, com qualidade em que o realizador consiga, interagindo com os atores, realizar uma obra de arte, da sétima arte.

Salvo raras e honrosas exceções, o cinema português é parado, não prende a atenção do espectador, que está sempre a olhar para o relógio para ver quando acaba, maçador, enfim o contrário do que considero cinema.

Ontem vi um filme português de seu nome “A Herdade“, realizado por Tiago Guedes e produzido por Paulo Branco, no ano de 2019, que conta a história dramática duma traumatizada família de grandes agricultores alentejanos, antes e depois do 25 de Abril, realçando o que de pior existia em termos de carácter do agricultor português, macho, sem
respeito pela mulher, inseminador de todas as mulheres da herdade, com um filho duma governanta que apadrinhou, com pouca ou nenhuma paciência e, até displicência, tanto para a educação dos filhos legítimos como do ilegítimo.

Enfim, uma história gasta mas verídica, que gostaria sinceramente que já não existisse, pois relata uma história de vícios privados e de falsas virtudes públicas, com consequências trágicas na vida dos filhos legítimos e dos falsos afilhados, refletidos indelevelmente nos seus traços de caráter e nas suas reprováveis condutas cívicas, éticas e de falsa moral, que infelizmente revejo nalgumas pessoas da minha geração, que conheço, que me foram próximas e que fruto da educação e do modelo parental que tiveram, infelizmente o reproduzem, como se dum triste fado sem fim, se tratasse.

A história até podia ser contada duma forma interessante, pois é uma boa história, que traça um retrato fiel da realidade sociológica de Portugal, entre a década de setenta e de noventa do século passado, no entanto, pelo contrário é desinteressante, enfadonha, aborrecida, parada, com diálogos e sobretudo silêncios longos, com muito pouca música, cheia de grandes planos bonitos, em termos pictóricos, mas longuíssimos, que fazem o espectador desinteressar-se do filme e ansiar pelo seu fim.

Salva-se a fotografia, a lindíssima paisagem do Alentejo e a interpretação de alguns atores de que destaco o protagonista Albano Jerónimo.

Enfim, continuamos a não saber contar uma história para cinema.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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