Opinião

África do Sul a ferro e fogo

Mais um conflito em África, ora na África do Sul, a África do Sul de Mandela, um dos ícones do século XX, que conseguiu acabar com o “apartheid“, e que o Governo do país transitasse de uma minoria branca, para uma maioria negra, sem guerra, tendo sido eleito democraticamente o primeiro presidente negro do país.

A postura pacífica e dialogante de Nelson Mandela, no período de transição, opondo-se mesmo às posições extremistas de sua mulher Winnie Mandela, de quem se divorciou, por esta na altura da transição do poder da minoria branca para a maioria negra, juntamente com outros líderes negros, se querer vingar da população branca e iniciar contra esta um conflito armado, foi uma atitude de um verdadeiro homem de estado.

Mandela conseguiu o feito extraordinário de unir o país, brancos e negros, tendo iniciado a negociação da transição de poder, ainda na prisão, onde cumpria uma pena perpétua, pois a mesma minoria branca que o prendeu e condenou pelos seus ideais, nele viu o único interlocutor, capaz de assegurar essa transição pacífica de poder e unir o país, algo que Mandela conseguiu pela sua postura exemplar de estadista, pela força do seu exemplo e da sua palavra.

A luta de Mandela e a sua postura valeram-lhe um prémio Nobel da Paz, como reconhecimento pela transição de poder pacífica, num país que é chave para a estabilização da África Austral, e que a par de Angola, é uma das duas potências regionais.

O ambiente que se está a instalar no país, por causa da prisão do ex-Presidente Zuma por alegada corrupção, pode ser o rastilho para se iniciar uma guerra civil, entre a tribo Zulu donde este é oriundo e outras, num país em que o Estado e suas fronteiras é algo espúrio, como aliás o é em toda a África.

Esperemos que a polícia e o exército consigam estabilizar o país e evitar uma guerra civil. Faz falta um estadista com a dimensão de Mandela que sacrificou a sua vida por um ideal, que tinha carisma e autoridade dum verdadeiro líder.

Esperemos que tudo se componha pois temos na região cerca de 600 000 portugueses, pelos quais temos obrigação de em “último ratio” repatriar.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva