Opinião

A anunciada retirada do Afeganistão

Esta quarta-feira, na reunião da NATO de ministros dos negócios estrangeiros e da defesa, os EUA vão anunciar a retirada das suas forças militares do Afeganistão, ou seja, a retirada de 2500 militares das suas forças regulares e um número indiscriminado de forças de Operações Especiais.

Vinte anos depois do ataque às torres gémeas em Nova York, e do subsequente ataque ao Afeganistão, como forma de retaliação, na altura com o objetivo de capturar ou matar o mandante do ataque Bin Laden, parece que finalmente vamos sair, embora pouco airosamente dum conflito, uma região em que todos os Impérios quebraram e perderam as
guerras que iniciaram.

Entrar numa guerra é um ato datado, a sua saída é sempre uma imprevisibilidade, pois entrar num país terceiro, destruí-lo e sair após a conquista do objetivo, que relembro era inicialmente o de capturar Bin Laden, é difícil mas exequível, no entanto não se pode destruir todo um país, já de si frágil e com um estado exíguo, quase inexistente, e abandoná-lo à sua sorte, sem o reconstruir e viabilizar política, económica e militarmente, sob risco de se abrir uma caixa de pandora de consequências imprevisíveis para a paz mundial.

A reconstrução do estado afegão foi a parte mais desgastante e difícil de conseguir nesta guerra, dado que no Afeganistão tinha que se reconstruir tudo à partir do zero e, conseguir o apoio e a pacificação de todas as partes envolvidas no conflito, tarefa ciclópica e quase impossível quando em determinada altura do mesmo pareceu pretender-se o impossível, ou seja, dizimar parte significativa da população, que se opunha à do Governo apoiado e
sustentado pelos EUA e seus aliados.

Nesta guerra que ora parece terminar, embora sem ter conseguido reconstruir e estabilizar o país, os EUA obrigaram literalmente os seus aliados da NATO a combater ao seu lado, tendo havido alguma resistência inicial de algumas nações, que não pretendiam entrar no confronto direto, preferindo apoiar a operação logisticamente ou participar na formação militar das novas Forças Armadas do Afeganistão, à imagem do que fizeram no Iraque, facto que em
minha opinião fragilizou e dividiu muito a aliança que entrou numa guerra sem um objetivo bem definido e que dela vai sair, deixando no ar a impressão de a ter perdido.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva