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Os migrantes islâmicos não são terroristas nem criminosos, são pessoas

Foto: Getty

Há uns anos fui convidado a falar sobre migrações na Faculdade de Direito de Porto, cerca de dez dias depois dos ataques terroristas em França contra a redação do Jornal Charlie Hebdo, que matou alguns jornalistas.

Esperava-me uma audiência jovem, atenta, preocupada, mas felizmente aberta, despreconceituosa e generosa, como são as novas gerações, que como a dos meus filhos me chamam à razão quando por vezes tenho alguns preconceitos inadequados à evolução que a sociedade teve neste último século e que muita esperança me trazem para o futuro.

A minha mensagem principal foi a de que os migrantes islâmicos não são terroristas, e que deveríamos ser solidários com o jornal e seus jornalistas, que através do humor se expressavam livremente, e num país democrático a sua opinião sem preconceitos, contra algumas idiossincrasias anacrónicas da religião islâmica, tendo publicado uma caricatura do profeta Maomé, algo inaceitável para os fanáticos e fundamentalistas islâmicos, que militam grupos terroristas e que tudo aproveitam para aterrorizar a sociedade ocidental, que condenam, espalhando o terror pelo terror, sem nenhum outro objetivo político palpável.

A mensagem de que os migrantes não são terroristas passou na audiência culta, que para além de alunos de nacionalidade portuguesa contava com uma elevada percentagem de alunos de Erasmus, essenciais para a construção de uma identidade europeia.

Toda a audiência percebeu a minha mensagem de que a Europa estava atualmente demograficamente envelhecida, que necessitava urgentemente de migrantes, e que desde sempre ao longo da história tinham havido movimentos migratórios de pessoas, algumas como estas, perseguidas no seu país de origem por motivos ideológicos, religiosos, étnicos ou outros inaceitáveis, e que têm de ser acolhidos e de ter direito a um estatuto especial de refugiados, e de migrantes económicos, que como nós portugueses ao longo dos séculos também emigrámos e continuamos a emigrar, em busca de melhores condições de vida.

Na altura em que proferi a conferência, em janeiro de 2015, tinham chegado às portas da Europa, no ano de 2014, cerca se 400 000 migrantes, pois foi numa altura em que ocorreu um pico em direção à UE, que repartidos pelos vinte e sete estados-membros da UE, era uma percentagem ínfima de pessoas, visto que o somatório de cidadãos europeus era, e é de cerca de quatrocentos milhões de pessoas.

Atualmente e de acordo com dados estatísticos da Comissão Europeia, o número total de migrantes é de cerca de 24 milhões, ou seja, uma percentagem de cerca de 5% da população europeia, o que é uma percentagem ínfima de migrantes, que devemos e podemos acolher, e que como o migrante proveniente do Afeganistão, que ontem infelizmente cometeu um crime hediondo, pois assassinou duas jovens em Lisboa e feriu um terceiro, veio para Portugal legalmente, pois após ter aportado ilegalmente na Grécia, foi acolhido em Portugal de acordo com o decidido em Conselho Europeu, sobre a necessidade de todos os estados-membros terem de abrir portas por quotas determinadas e acordadas, ao acolhimento de migrantes, que não podem, nem devem, ficar em campos de refugiados indefinidamente, e a União Europeia não os pode nem deve, humanitariamente, repatriar para os países de origem, nem para um país terceiro, seguindo o mau exemplo britânico de os querer enviar para o Ruanda, algo que é para além de inaceitável, é uma impossibilidade em termos logísticos.

A crer nas notícias, tudo aponta para que o ocorrido ontem no Centro Ismaelita em Lisboa, foi um crime hediondo, e não um ato terrorista, e como tal, deve ser julgado na justiça portuguesa, independentemente da nacionalidade de quem o pratica, e mesmo que tivesse sido um ato terrorista é infelizmente um risco que temos de aceitar, pois eventualmente em cerca de vinte milhões de migrantes que chegaram à União Europeia, podem ter chegado alguns, deles não identificados na triagem feita pelas autoridades antes de os distribuírem por quotas, mas será sempre um risco mínimo, não devendo nos confundirmos o todo pela parte.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma