Opinião

O trabalho em si não dignifica ninguém

Bertrand Russel, um dos grandes filósofos do século XX, caracterizava a sociedade dividindo-a em três classes: a dos trabalhadores braçais que, por muito que vendam a sua força de trabalho, pouco valor este tem, a dos que trabalham em serviços que, não sejam braçais, coincidentes com os que normalmente pertencem à classe média, que poderão obter algum rendimento que lhes permita concretizar alguns, não muitos objetivos, e os Ociosos, os que não trabalham, mas que precisam do trabalho dos outros para viver bem.

Curiosamente são os Ociosos, que estão sempre a falar do trabalho e da dignificação do mesmo, porque necessitam do trabalho dos outros para poderem não trabalhar.

Esta perspetiva interessante é seguida por outros filósofos, que falam do trabalho, afirmando que este não pode, nem deve ser o objetivo único da vida.

Agostinho da Silva fala em dois hemisférios, o do Sul, em que as pessoas estão sempre alegres pois não fazem do trabalho o único objetivo da vida e por isso desfrutam da vida, ou seja, vivem-na mesmo com poucos haveres, e o do Norte, onde tudo se passa ao contrário.

Quando questionado sobre a velhice neste contexto, Agostinho da Silva afirmou que, a ausência de trabalho não traz nenhumas perturbações quando se atinge a idade da reforma, antes pelo contrário, e que, o que poderá eventualmente trazer problemas é a doença não a velhice em si mesma.

Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva

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