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O Circo dos Outros: Quando percebemos, o Circo somos nós

O enredo começa com um casal “convencionalmente conformado”, ele afogado em papéis e trabalho e ela apanhando roupa no estendal. Ela desafia-o a seguir os seus sonhos e fazer coisas tão simples como tocar a guitarra que tanto gostava.

Quando resolve procurar dar um novo rumo à sua vida desprovida de alegria e até sentido, é confrontado pela espantosa descoberta de um vasto e estranho mundo de pessoas peculiares bem parecidas com ele, que se viram desapropriadas dos seus sonhos.

Neste percurso, lança-se na criação de um circo. Peculiar como a vida, vai formando o elenco com pessoas que não passaram noutros castings. Porque são gordas, porque são feias, porque são deficientes motores, porque são mudos, porque são homossexuais… porque… são diferentes como todas aquelas que vemos todos os dias.

Numa releitura original do premiado filme norte-americano “The Greatest Showman”, a peça “O Circo dos Outros” retoma temáticas como a tolerância, a amizade, a paixão e a ambição, e ensaia de que forma as relações exteriores e os processos interiores podem conduzir alguém a sair do preto e branco e a renascer. É por isso um salto no escuro profundo, onde se acordam as vozes surdas da consciência, e ao mesmo tempo um voo largo, onde se vislumbram e desafiam as fronteiras do impossível.” (1)

Tudo isto, montado num musical bem pensado e ritmado pelo grupo SolinSi que durante cerca de uma hora foi em crescendo conquistando a plateia esgotada do auditório Jaime Lobo e Silva na Ericeira.

Fomos levados numa montanha russa de emoções, sentimentos, erros, complexos, tristezas e alegrias. Bem perto do final do enredo, percebemos que o “Circo dos Outros” afinal não está só no palco do auditório, porque o “Circo” somos todos nós.

No final, uma ovação enorme, só merecida por quem arrisca sair da zona de conforto, onde diga-se de passagem, o SolinSi são muito bons, e parte para a produção de um musical ambicioso e muito bem conseguido.

Ficha técnica:
Texto original . AFONSO CARDOSO Dramaturgia . LEONOR ALVES Encenação . JOÃO PEDRO SANTOS Assistência de Encenação . BIATRIZ ALVES RIBEIRO Direção Musical . ANTÓNIO GERALDO Coreografia . CATARINA MOITA
Adaptação Musical . AFONSO CARDOSO | ANTÓNIO GERALDO | LEONOR ALVES Figurinos e Cenários . BIATRIZ ALVES RIBEIRO | JOÃO PEDRO SANTOS Design . LIA TAVARES NETO Ginastas . RAQUEL LEITÃO

(1) Texto extraído da folha de sala

Nota do autor: Quando nos deixam, sabemos registar momentos.

Texto e fotografias de Carlos Sousa/ KPhoto