Geral Opinião

Nunca se encurrala uma fera sem lhe dar uma saída

O conceito de emprego da arma nuclear tática, teve origem na doutrina do Ocidente, desenvolvida com a finalidade para as eventuais vagas de carros de combate, que poderiam vir da URSS em conquista do Ocidente, sem lhe dar tempo a defender-se, e inclusive os nossos obuses 15, 5 ap que equipavam, e equipam a BrigMec, têm capacidade de lançar munições nucleares táticas.

A doutrina agora proscrita afirmava que o lançamento dessas muniçōes táticas não obrigavam necessariamente ao escalar da guerra para o patamar das armas nucleares estratégicas, um pouco à semelhança da teoria de que quem consome drogas leves, não tem obrigatoriamente de vir a fumar drogas duras.

Pessoalmente, não sei o que é ganhar esta guerra, que atualmente se desenrola na Ucrânia, pois não sei quais os objetivos dos EUA, a potência liderante da NATO e do Reino Unido, seu dileto aliado que normalmente faz de polícia mau, para deixar os EUA um papel mais magnânimo.

Clauswitz, o grande teorizador da guerra, hoje estudado em todas as escolas de estratégia, neo-Clauswitzianas de que Raymond Aron é um dos seus maiores expoentes, e que muito influenciou a teoria realista das Relações Internacionais, dizia que com uma guerra não se pretende a eliminação total do inimigo, mas sim ganhar uma vantagem nítida, para voltar à política, à mesa das negociações, a mesa da Diplomacia.

Uma qualquer negociação, implica sempre cedências das duas partes. Se nunca nenhum dos adversários ceder nada, ou se ambos estiverem convencidos que vão ganhar, mesmo que no terreno tal não se verifique, a guerra só acaba quando houver a capitulação total de uma das partes.

Ora no caso em concreto da invasão da Rússia à Ucrânia, a capitulação da Rússia, é algo difícil de vislumbrar, pois uma potência nuclear se se vir aflita não abdicará de lançar uma munição nuclear tática no território ucraniano, não pretendendo com esse lançamento escalar o conflito, mas evitar a todo o custo uma derrota.

Sun Tzu refere, a este propósito que não se deve encurralar uma fera ferida, é preciso dar-lhe uma saída, para evitar uma eventual fuga para a frente, uma tentativa desesperada de dar a volta a um insucesso, algo que o próprio Putin refere várias vezes, quando conta uma história, que terá presenciado na sua juventude, de um gato que encurralou uma ratazana, e que esta desesperada não viu outra saída senão ataca o gato.

Questiono-me amiúdes vezes qual o objetivo esperado pelos EUA acerca de desgastar a Rússia, será que é dar-lhe uma lição, que levará inexoravelmente à sua queda interna, e fim do atual regime aristocrático, algo que sabemos difícil de acontecer numa sociedade fechada, sem acesso à imprensa livre e com uma elite composta de oligarcas comprados a peso de petrodólares, que nunca se revoltariam contra o chefe, sobretudo depois de ter presenciado a morte ”acidental” de vários dos seus, que eventualmente terão questionado as decisões do grande líder.

Em minha opinião, se Putin cair será substituído por um líder mais ortodoxo, que numa eventual situação de fraqueza, para impedir a eventual implosão da federação russa, se feudalizará a Pequim, algo que o Ocidente nunca quis.

Uma coisa é certa, quanto mais tempo durar a guerra, mais consequências adversas terá Portugal, que de repente na semana passada, acordou com um pesadelo, pois esteve prestes a repetir-se uma crise semelhante à das dívidas soberanas, que deu origem à famigerada crise financeira de 2018, não fora desta vez a Itália ter uma dívida em relação ao PIB, muito superior à nossa o que levou o BCE a intervir de imediato.