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Factos & Mitos: A poluição aumenta o risco cardiovascular?

Viver num ambiente saudável complementa o controlo de fatores de risco individuais e ajuda a prevenir doenças cardiovasculares.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte e incapacidade.

Estima-se que em 2019 tenham sido responsáveis por 32% de todas as mortes em todo o mundo, ou seja, 18,6 milhões de mortes.
Destas, 85% foram por enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

O impacto que o controlo de fatores de risco cardiovascular individuais – como o consumo de tabaco, hipertensão, colesterol elevado, diabetes, obesidade, entre outros – tem na diminuição da incidência das doenças cardiovasculares e da mortalidade que lhe está associada tem sido bem visível.

Além destes fatores de risco cardiovascular mais conhecidos e dos efeitos de outros problemas de saúde, há outras questões relacionadas com um maior risco cardiovascular:

  • Piores condições socioeconómicas e stress profissional, especialmente quando se combina uma grande exigência profissional e uma remuneração desproporcionadamente baixa;
  • Problemas ambientais, como a poluição, destacando-se a poluição do ar.

Poluição e doenças cardiovasculares

As várias formas de poluição foram responsáveis em 2019 por cerca de 9 milhões de mortes no mundo, 61,9% dos quais relacionadas com doenças cardiovasculares, principalmente:

  • Enfarte agudo do miocárdio e angina de peito (31,7%);
  • Acidente vascular cerebral (27,7%).

Só a poluição do ar foi responsável por 6,7 milhões daquelas mortes e é, por isso, a quarta principal causa de doença e morte em todo o mundo.

  • Os seus efeitos são principalmente respiratórios, mas as doenças cardiovasculares representam 40%-60% das mortes prematuras relacionadas com esta forma de poluição.

Particularidades individuais, como a idade e condições de vida, aumentam a suscetibilidade e agravam os efeitos da poluição na saúde.

Poluição do ar

A poluição do ar inclui tanto a poluição do ar exterior como a do ar interior.

  • Com a melhoria das condições de vida, as mortes devidas a poluição do ar interior têm diminuído; foram 2,3 milhões em 2019.
  • No entanto, as que se devem à poluição do ar exterior aumentaram cerca de 50% desde o início do século XX e foram 4,1 milhões em 2019.

A Organização Mundial de Saúde estima que 91% da população mundial viva ainda em lugares onde os níveis de poluição do ar excedem os limites recomendados por esta organização.

Os efeitos da poluição do ar na mortalidade variam muito nas várias regiões do globo.

  • São responsáveis por menos mortes nos países mais desenvolvidos que há mais tempo adotaram medidas de controlo da poluição, onde estas medidas são mais restritivas e o desenvolvimento tecnológico está mais avançado.
  • Noutro extremo, estão países em que as mortes cardiovasculares devidas a poluição do ar são as que têm maior peso.

Poluentes no ar

No ar existem poluentes sólidos, líquidos e gasosos.

As partículas em suspensão são o poluente sólido do ar e estão muito ligadas a efeitos na saúde, particularmente as partículas finas e ultrafinas, pois quanto mais pequenas as partículas, mais profundamente atingem os órgãos respiratórios.

Sabe-se hoje que a exposição a partículas poluentes em suspensão no ar, seja de curto ou longo prazo, tem sempre efeitos prejudiciais:

  • A exposição de curto prazo a partículas finas e ultra-finas está associada a hipertensão, enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral (fatal e não fatal).
  • A exposição de longo prazo a particulas finas está associada a aumento do risco de aterosclerose, enfarte do miocárdio, hipertensão e outras doenças cardiovasculares, incluindo arritmias e insuficiência cardíaca, entre outras.

Além da quantidade e dimensão, também a composição e propriedades das partículas em suspensão no ar varia . Depende, por exemplo, da sua origem.

  • Nas zonas urbanas as partículas finas e ultrafinas devem-se em grande parte à combustão nos veículos, indústria e produção de energia, e estes são também fonte de poluentes gasosos no ar.

As mudanças climáticas, por seu lado, exacerbam também o efeito dos poluentes atmosféricos. As temperaturas extremas e a sua variabilidade associam-se a aumento da mortalidade por enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral.

Em 2021 a Organização Mundial de Saúde alterou os limites recomendados de particulas finas em suspensão no ar para 5 µg/m3, metade da sua recomendação anterior. Estes padrões de qualidade do ar passaram assim a ser os mais exigentes de todo o mundo. Seguem-se os australianos e americanos e só depois os europeus.

Evitar a poluição e diminuir o risco cardiovascular

Todos os estudos sobre os efeitos da poluição do ar na saúde revelam um aumento do risco de doenças cardiovasculares com o nível de poluição.

Por isso, na prevenção de doenças cardiovasculares, o papel da poluição como fator de risco evitável não pode ser esquecido.

  • Evitar a exposição a ambientes poluídos, por qualquer forma de poluição, pode salvar muitas vidas.
  • Qualquer gesto individual que evite ou contrarie a poluição, por pequeno que seja, terá o seu papel favorável na saúde coletiva.
  • Viver num ambiente mais saudável é um reforço fundamental para que não sejam contrariados os esforços por um estilo de vida mais saudável, que são já preocupação de tantos de nós.

Fonte: Hospital da Luz