Desde o período dos descobrimentos que os ocidentais impuseram a sua cultura e a sua religião, aos povos nos territórios que até então desconheciam.
Há pois cerca de seis séculos, que cometemos o mesmo erro, e voltámos a cometê-lo no Afeganistão, após o 11 de Setembro de 2001, ou seja, se até à morte de Ben Laden a ação militar foi punitiva a partir de 2011, a reconstrução do país teria que ter em conta a sua cultura, tradições e as religiões dos diferentes grupos étnicos, das tribos e das religiões que estes professam, ou seja, não era possível ter sucesso na reconstrução, sem pelo menos perceber que não se podiam privilegiar os Xiitas em detrimento dos Sunitas, maioritários na região, nem sem perceber que a hierarquia social e a organização política destes povos começa na família, na tribo, na etnia e na religião, por esta ordem e que o conceito estado lhes é espúrio, como tal construir um estado ocidental no Afeganistão era algo, à partida, condenado ao fracasso.
A Europa, depois deste insucesso em que participou, acordou com uma perspetiva de pesadelo, que mais uma vez vai ter que começar já a acautelar, ou seja, com uma perspetiva de mais uma vaga de migrantes ilegais, a nela quererem entrar, em busca do El Dorado.
Ontem os Ministros das Administrações Internas da UE reuniram-se em Bruxelas, tendo em vista acertar medidas que impeçam ou mitiguem este processo que exige desde já que sejam tomadas medidas muito assertivas, que vão em conjugação com ONU, desde prestar assistência humanitária no Afeganistão, algo que exige o acordo dos líderes tribais da região e negociar contrapartidas financeiras, com estes e com os países vizinhos, que promovam o seu
desenvolvimento integrado, algo que a UE tem capacidades únicas para o fazer, por forma a que estes acolham os povos irmãos, que vão iniciar a sua debandada.
O Paquistão Pashtun, o Azerbeijão, o Tajiquistão, o Irão, a Turquia, terão de obrigatoriamente entrar nesta equação, de difícil solução, e que vai exigir verbas muito avultadas, e um grande esforço de apoio humanitário inicialmente, e de apoio ao desenvolvimento integrado, das terras que os acolherem e à posterior integração plena destes, numa fase posterior.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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