Geral Opinião

COVID-19: Porquê o barril de petróleo está barato?

A Geografia não muda nem os interesses dos Estados.

Partindo desses pressupostos começo esta breve análise.

A Rússia, potência global, apoiou o governo Sírio  e com ele ganhou a guerra na Síria, dado que é  nesse país, que tem uma das suas bases navais mais importantes, que tinha que  continuar a manter, uma vez que necessita que a sua marinha tenha  acesso permanentemente  a mares não gelados, que lhe permita  usá-la sem restrições durante todo o ano.

A Síria é liderada por um governo , professo da facção Xiita do Islão.

O Irão, outra das  potências regionais do Médio-Oriente , é o  país  líder do Xiismo, razão  pela qual também apoiou o governo Sírio na guerra

A Arábia Saudita, outra grande potência regional, é apoiada pelos USA, potência Global, é líder por sua vez  da facção Sunita do Islão.

Desde o surgimento destas duas correntes do Islão que tem havido guerras e ódios entre si, pela legitimidade do legado do profeta Maomé.

Nos últimos anos o Irão e a Arábia Saudita têm apoiado duas facções diferentes na guerra civil do Yemen, que está longe de ter fim, e que tem consumido muitos recursos financeiros a ambos os países.

A Arábia Saudita e o Irão são dois grandes  produtores de petróleo, que normalmente  utilizam esse recurso,  para se degladiarem entre si, quer na conquista de mercados quer na regulação dos preços, para se financiarem e armarem, .com armas convencionais e mesmo almejam  dotarem-se de armamamento nuclear,  com o fim de se tornarem  potências nucleares.

Mercê das sanções impostas pelos USA ao Irão o país está com dificuldades financeiras, pois praticamente só consegue exportar crude para a China, uma vez que o seu aliado Russo é também produtor de petróleo. .

Recentemente a Rússia e a Arábia Saudita desentenderam-se relativamente ao preço de venda do barril de crude no mercado global, e a Arábia Saudita, em retaliação, inundou e saturou o mercado, a preços  de saldo, que ao dia de hoje rondam os 20 dólares por barril com tendência para descer.

Com esta jogada  de  dumping, a Arábia Saudita pretende atingir a economia da Rússia, que como vimos se aliou à Síria e ao Irão   desestabilizando o frágil equilíbrio regional,  dado que a maior fonte de rendimento da Rússia é o petróleo.

Para além da Rússia, esta medida, prejudica também o Irão, pois a China, seu grande comprador, está neste momento a comprar crude para as suas reservas a preços excessivamente baixos.

Com o COVID-19, e apesar dele, a estratégia mantêm-se, e os USA receosos que a Rússia apesar de fragilizada na sua economia, quisesse aproveitar esta distração da pandemia, para consolidar a sua posição na Ucrânia e/ ou lançar um ataque, noutra zona onde mantém conflitos dormentes, como é o caso dos  países Bálticos,, não anularam o exercício NATO Defender 20, e estão a efetuar uma das maiores manobras militares no leste da Europa, com cerca de vinte mil militares americanos no terreno, , e colocaram os seus bombardeiros mais avançados tecnologicamente nos Açores.

Os interesses estratégicos nunca mudam pois a a Geografia também não.

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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