Na elaboração de qualquer plano, não sendo o plano de vacinação uma exceção, temos de inicialmente elencar pressupostos que, normalmente têm a concordância da tutela, dado que todos os processos de planeamento devem ser interativos. A partir daí são elencados os objetivos intermédios, um cronograma, locais de armazenamento e a listagem de capacidades e meios necessários para cumprir a missão, que a tutela deve ir seguindo, finalizando essa primeira fase de planeamento com uma priorização, essencial para se continuar o planeamento operacional e administrativo-logístico da operação.
A priorização é sempre, em todos os casos, uma decisão política fundamental, para a partir daí se elaborarem ordens de operações e administrativo-logísticas coerentes, distribuindo missões a todas as entidades envolvidas na execução do plano, enfim, se poder iniciar a execução do mesmo de uma forma coordenada.
No caso do plano de vacinação, a priorização, responsabilidade política do governo, tem variado tanto como um cata-vento, facto que torna na prática a missão de vacinar, caótica e errática, pois sempre que isso acontece é necessário refazer todo o planeamento necessário para executar o plano.
A primeira priorização foi elaborada tendo por base grupos etários, ordenados em sentido decrescente, com duas exceções relativamente aos doentes com co morbilidades que, por esse facto, poderiam ser vacinados noutro grupo etário com maior prioridade e o pessoal de saúde que, independentemente da idade, teria de ultrapassar todos os outros grupos, desde que estivessem na primeira linha de combate à pandemia.
Claro que logo nesta primeira priorização foram vacinados os profissionais de saúde todos, ou quase todos sem exceção, independentemente de estarem ou não na primeira linha de combate à pandemia.
Passado pouco tempo o governo decidiu que, um pequeno número de políticos em funções governativas essenciais, também deveria ser prioritário, facto que imediatamente foi alargado a um reduzido número de deputados essenciais para o funcionamento do Parlamento, tendo-se imediatamente aberto uma caixa de pandora, pois a Assembleia da
República elaborou uma lista muito vasta de deputados, em que todos nela inscritos eram, pasme-se, essenciais ao regular funcionamento da Instituição.
No seguimento desta inqualificável atuação do Parlamento, alguns magistrados, como tutelares de órgãos de soberania, também exigiram ser incluídos neste grupo, inicialmente destinado a meia dúzia de políticos em funções essenciais para garantir o regular funcionamento do País.
O Governo entretanto foi abrindo novas exceções à sua priorização inicial, nomeadamente aos bombeiros, às forças de segurança e militares e, esta semana aos professores e auxiliares educativos.
Com tantas exceções, deixou, na prática, de haver prioridades tornando-se impossível planear-se o que quer que seja.
Como de costume em Portugal está lançado o granel e o caos generalizado.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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