Opinião

As aparições de Fátima

Comentários a um programa passado no Canal de História

Passou no canal História, em plena Semana Santa, um documentário sobre Fátima, em minha opinião, com leituras deturpadas e enviesadas, não totalmente coincidentes com a realidade, do fenómeno das aparições da Virgem Maria, na Cova da Iria, querendo-o colar exclusivamente ao Estado-Novo, e tendo inclusivamente, terminado com algumas considerações esdrúxulas da ligação de Fátima ao V Império de Dom João V, afirmando que Fátima consubstanciava, na sua essência, o sonho do V Império, ora um Império Luso de cariz espiritual.

O Estado-Novo, em minha opinião, foi obrigado a reconhecer o fenómeno popular de Fátima, pois o povo português, assim o exigiu, com as grandes manifestações de fé, inicialmente espontâneas na Virgem de Fátima, e mais tarde apoiadas pelo clero, manifestadas através de permanentes grandes romarias, que começaram a acontecer no local, muito em especial nas datas das aparições.

Fátima nasceu por vontade do povo, numa época da História recente do nosso país, em que grassava em Portugal um clima quezilento e anticlerical que a I República instigava, e como consequência de dois factos, que considero relevantes, nomeadamente as pesadas baixas que as tropas portuguesas sofreram na I Guerra Mundial e a gripe espanhola de má memória que dizimou parte significativa da população.

O Estado-Novo mais não fez, em minha opinião, do que se aproveitar dum fenómeno de religiosidade popular, já arreigado na população portuguesa e posteriormente, por influência direta do cardeal Cerejeira, se aproveitado politicamente de Fátima, para ter o apoio do povo e se consolidar no poder, contrariamente ao afirmado por Fernando Rosas, no decorrer do programa.

Vou a Fátima amiúdes vezes, tendo-me lá casado e batizado uma filha, sentindo sempre que lá me desloco, uma grande paz interior, não me interessa aprofundar os acontecimentos relativos às aparições da Virgem, que não são um dogma da Igreja, mas como todos os atos de fé, para mim Fátima pertence ao domínio emocional, não racional, que não se explica, mas que se sentem.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva