Ninguém cá fica. Isto de assim ouvir falar parece de durão, de gente insensível, de gente pouco social. De gente reles. De gente não resolvida.
Mas de facto, o tempo dá razão a todos aqueles que aceitam com relativa calma – a morte, ou o desaparecimento de alguém, que estava vivo. Pode ser desconhecido, ou amigo, ou familiar, ou de intima vivência. A dor inconformada de alguns, não é sentida da mesma forma pela grande maioria e cada vez, ainda muito mais fria essa sensação de… morreu e depois?
O Virus trouxe ainda mais frieza à situação. Passamos a ser um numero. Mais um.
Morreu, faz-se o funeral e pronto. Acabou.
Recebem-se amistosas lamentações, mas sem verdade…todas foram compradas feitas, na senhora que vende flores. Só talvez algum credor sinta mais o desaparecimento talvez de quem podia pagar.
Mas agora, com a pandemia, já nem se faz o funeral – a urna é clássica, vulgar ou vintage mesmo, e agora sem carpideiras. Sem presenças a não ser mínimas.
Definitivamente sem a companhia de todos os que eram amigos ou familiares.
De familiares havia apenas conhecidos, pois ninguém se dava com o morto. De amigos, poucos seriam na realidade íntimos, embora mais conhecidos dos negócios ou do trabalho, como clientes ou fornecedores, ou do virtual Facebook.
Nada contra, e é confortável. Talvez até vá continuar por pegar e ser moda, mais rápido esta forma de desaparecer, quer seja enterrado ou cremado…ou deitado ao mar.
Uma ou duas das maneiras, nada agradável de ver ou sentir.
Deixa de haver a pieguice da mão no ombro, a palmadinha nas costas, ou o simples cumprimento de condolências, assim a modos que um cumprimento mais demorado e ao ralenti .
Em termos de emprego – Um tipo desaparece e a loucura apossa-se de quem o quer substituir. Tipo novo vírus.
E também de quem quer saber o que deixou, dinheiro e bens. Quanto me toca? É a pergunta do dia.
Tudo passou para a fase menos glamourosa, a do interesse. Agora com as fotografias todas na nuvem, nem dá para emoldurar e logicamente além das cinzas eventualmente num jarrão da sala nem uma moldura com a imagem do dito cujo, vai ficar.
O que ficou, e que arrecadou em valores, vai ser gasto sem sentir por um alguém que nada fez.
Uma coisa é certa o defunto nada trouxe quando nasceu, ficou cá tudo o que juntou, e nada levou quando morreu.
Helder Martins
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