Geral Opinião

A guerra da Ucrânia está longe de terminar

Foto: Getty Images

A Rússia perdeu a primeira fase da guerra que se propôs fazer na Ucrânia, não só no plano militar, algo que é evidente com a retirada total de Kiev, bem como nos planos político/diplomático, económico, comunicacional e na guerra das informações.

A retirada das tropas russas de Kiev foi bem executada, duma forma geral, dado o elevado número de forças que cercavam a capital. A atrição das forças russas, foi muito superior ao previsto, havendo quem admita ter sido na ordem dos 25%, algo que demorará muito tempo a reorganizar, para poderem retornar ao Teatro de Guerra, ora na região do Dombass.

No resto da Ucrânia, a Rússia também não ganhou absolutamente nada de relevante, cercou várias cidades que, na sua maioria não caíram, inclusive Mariupol, que continua com cerca de três mil combatentes a impedir a Rússia de cantar vitória.

A tentar ocupar Mariupol, estão cerca de 15000 soldados russos que continuam empenhados, ou seja, não se podem retirar sem conquistar o objetivo, ou seja, sem que a Rússia perca a face.

Se em Maripol há cerca de 15000 soldados russos ainda a cercar a cidade, nas outras cidades cercadas, de maior dimensão, o número será certamente superior, o que significa que a todas as forças russas no Leste do Dniepre estão empenhadas, não sendo possível desempenhá-las sem atrição, à semelhança de Kiev. Sem tropas novas no terreno, a Rússia não se consegue mexer, pois todo o seu potencial está atualmente empenhado.

Os ucranianos, à semelhança dos russos, também estão a reorganizar e recompletar as forças que defenderam a capital, estando todas as suas forças a receber material da guerra da NATO, como carros de combate, viaturas blindadas de combate de infantaria, mísseis e drones modernos, bem como sistemas de artilharia antiaérea, em quantidade e qualidade.

Com este potencial e a defender o seu território, a Ucrânia fica com um potencial de combate com capacidades, para efetuar uma  manobra defensiva de uma forma muito eficiente, ou seja, não é lícito nem evidente que a Rússia consiga ganhar esta guerra.

Os ucranianos defendem Dombass há anos, estando agarrados em trincheiras e ao terreno, numa manobra que apelidamos de Defesa de Posição, que se tem mostrado eficiente.

A Ucrânia vai ter de reforçar as linhas defensivas que tem na frente, construir novas e utilizar as forças restantes em reserva, capazes de reforçar a frente e contra-atacar reservas têm que estar dotadas de grande mobilidade, para acorrer onde necessário e contra-atacar.

As reservas ainda terão de estar preparadas para defender outras direções, de forma a impedir que as forças russas envolvam as forças defensivas em primeira linha.

Para impedir esse envolvimento das forças da frente, é essencial defender bem a cidade de Dnipro, a exemplo do que está a acontecer com Michelayev, que está a defender Odessa, devendo os ucranianos reforçar bem as defesas da cidade.

Não me parece que a Ucrânia vá defender em profundidade, pois não pretende ceder um palmo de terreno aos russos, a não ser que não consiga suster a frente e, nesse caso, deve ter um planeamento alternativo. Não nos podemos esquecer que o degelo está a começar, o que dificulta o movimento doa atacantes e das reservas.

Neste momento não vislumbro que possa haver paz tão cedo, pois os ucranianos a vencer a guerra não o querem fazer, e a Rússia não se pode retirar da Ucrânia estando a perder a guerra, pelo menos até ao presente momento.

Não posso prever, nem ninguém pode prever uma data de final da guerra, muito embora a Rússia gostasse que fosse breve, perto dos dias festivos que está prestes a comemorar, ou seja, no dia que comemora o facto de ter vencido os alemães na segunda guerra patriótica ou no dia da Rússia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reserva