Opinião

A cobardia dos atuais políticos na sequência da morte de Otelo

Mário Soares foi o político que, apoiado pela CIA e pelo embaixador dos EUA Frank Carlucci, assumiu o rosto político do 25 de Novembro, e Eanes o seu rosto militar.

Mário Soares, em minha opinião, foi nessa altura e durante o seu período de político no ativo, o político a quem coube a missão de pacificar e unificar um país conturbado, na sequência do 25 de Abril de 1974, e do PREC que se lhe seguiu.

O período, subsequente ao 25 de Novembro de 1975, foi longo, tendo durado cerca de uma década, e nele se foi paulatinamente pacificando o país, que estava à beira dum ataque de nervos, completamente extremado.

Esse período complicado da vida política portuguesa, só ficou completamente resolvido, aquando da amnistia de Otelo e das FP25 de Abril, ato político que só um homem com o faro político de Mário Soares, tinha capacidade para concretizar na altura em que foi Presidente da República. Essa amnistia política, em minha opinião, foi fundamental para se conseguir que o país tivesse alcançado a paz.

Mário Soares também, enquanto Presidente da República, reabilitou o Marechal Spínola a quem promoveu e ofereceu o cargo de Chanceler das Ordens Honoríficas Portuguesas, conseguindo concomitantemente, que os movimentos terroristas por ele liderados e apoiados, do ELP e do MDLP, não fossem levados a julgamento, ou seja, fossem amnistiados todos os seus elementos.

O Estado reconstituiu as carreiras de todos os oficiais revoltosos de esquerda e de direita, tendo todos terminado a carreira em Coronel e recebido retroativos desde o tempo em que, alegadamente, por motivos políticos, tiveram de se afastar do Serviço, tendo o mesmo acontecido com os Sargentos que foram todos promovidos ao posto de Sargento-mor.

A paz exige complacência e magnanimidade, que só políticos de mão-cheia conseguem ter, o que não é o caso dos atuais políticos que foram ao velório de Otelo, tendo no final prestado declarações vergonhosas e indignas aos jornalistas, ao afirmar que nenhum militar, faça o que fizer, poderá alguma vez ambicionar a ter honras de estado no seu funeral.

Estas generalizações são indignas e impróprias, pois não tiveram coragem de fazer uma declaração política, justificando que Otelo por ter sido um homem controverso, simultaneamente um herói e um anti-herói, como ontem referi na minha crónica, não merecia honras de estado.

Assumam-se!!!

A pacificação conseguida através de amnistias políticas são essenciais, sendo a meu ver também essencial, que na atualidade na África do Sul se amnistie o ex Presidente Zumba, a bem da paz e da sobrevivência do periclitante regime vigente.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva