Está aberta a discussão sobre o Estado Novo, infelizmente numa guerra de trincheiras que, nunca levará a nada, a não ser ao exacerbar de posições extremistas dos dois lados.
Penso realmente que, passados cerca de cinquenta anos da revolução de Abril, já era hora de se debater seriamente o antigo regime, a política, a guerra, o modelo económico, o estado social, enfim, de se refletir sobre o passado de uma forma desapaixonada, séria e científica, ou seja, uma reflexão que nos ajude a perceber quem somos, sem propaganda.
Quando falo de ciências humanas e sociais, refiro-me a que na história, como ciência deste domínio que em tudo pode e deve ser questionado, devendo aplicar-se sempre o método científico, levantando hipóteses e verificando a sua validade, para se tirarem conclusões, e talvez lições para o futuro.
Com a morte de Marcelino da Mata, parece ter-se aberto uma caixa de pandora, em que tudo se discute de uma forma pouco empírica e pouco séria, havendo arautos de extrema-direita e de extrema esquerda que exprimem opiniões, não muito sérias e completamente inaceitáveis
sobre todos os pontos de vista.
A última declaração insana foi expressa por um deputado do PS, em que para além de defender querer acabar com o padrão dos descobrimentos, fala de uma forma brejeira da revolução de Abril, tecendo considerações esdrúxulas sobre o facto de não ter havido mortos, pois segundo ele, isso teria sido benéfico para ajudar a fazer um corte radical com o passado, tendo entretanto, tentado mistificar o que disse, afirmando ter utilizado uma linguagem metafórica.
A exposição do mundo português foi uma manobra de propaganda efetuada pelo regime de Salazar, para exaltar o sentido patriótico português e demonstrar ao mundo livre, que nos ostracizava e condenava pelas opções políticas e estratégicas do Estado Novo que, Portugal era um país uno e territorialmente disperso, do Minho a Timor conforme a narrativa oficial do Governo.
A maioria dos edifícios e pavilhões dessa exposição, foram destruídos porque eram provisórios, tendo dela restando, a Praça do Império com o jardim, o Padrão dos Descobrimentos e um pavilhão, com ar de provisório esteticamente desagradável e decadente que, alberga um antiquado museu, o museu da cultura popular.
O Padrão dos Descobrimentos, que não sendo particularmente bonito, é um monumento estilo Estado Novo que, marca uma época em que era necessário contar uma narrativa coerente, com a propaganda do regime, em que a História de Portugal se reduzia à exaltação de figuras históricas que transmitissem e representassem uma ideologia.
Sinceramente, acho o monumento feio, e tira um pouco o brilho à Torre de Belém, mas marca uma época e parte da nossa histórica que, não se deve nem pode apagar, mas que se pode e deve discutir.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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