Há algum tempo fiz uma reportagem num espetáculo integrado, numa homenagem a José Fanha, na Ericeira, e houve uma frase que me marcou. Fanha disse a determinado momento algo como “não não me venham com tretas, a velhice não é um acrescento de saber, não é experiência. A velhice é uma chatice porque ficamos disformes, porque temos maleitas, porque nos esquecemos de algo”.
Tenho 59 anos e pensei que provavelmente o homem tinha razão.
Hoje tive um dia mau, reuniões intermináveis, saturação de uma semana intensa. Para aliviar o dia fui comprar jantar num restaurante da Ericeira que gosto e levei para casa. Telefonei à família e pedi “ponham a mesa, abram um bom vinho e vamos desfrutar que eu levo o jantar”.
Para o fim de semana, para além do confinamento obrigatório, a previsão do tempo diz que mesmo tendo um quintal, vou ter que ficar em casa porque tempo vai estar uma verdadeira angústia.
Recebi uma boa notícia, uma foto minha foi selecionada para um livro belga e para uma exposição que provavelmente não vai acontecer por causa da pandemia.
Mas hoje, depois disto tudo, depois de ter bebido uns whiskys, depois do tal jantar que vos falei, verifiquei que estava vivo, que tenho uma família, que tenho um emprego, que aparentemente tenho saúde, e, provavelmente o meu dia não foi tão mau assim.
Entre RESISTIR e DESISTIR só muda uma letra, eu escolho a primeira opção.
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