Geral Opinião

40 anos de CEE

40 anos depois da nossa entrada na então CEE, tenho um enorme orgulho de ter servido Portugal na União Europeia durante vários anos como Experto nacional no momento em que a União da Europa Ocidental deixou de ser a entidade quase se extinguiu, e o seu principal objeto foi transferido para a UE, ou seja, a sua segurança e defesa, passando a UE pela primeira vez na sua existência a assumir um papel nesta dimensão dado que a UE até então era unicamente um mercado comum. 

Na altura o Estado-maior da União Europeia, tinha muito poucos uma estrutura muito pequena, sem grande capacidade para produzir trabalho de “staff”, dado facto de ter uma quantidade muito reduzida de militares, à inexistência de uma estrutura física própria, a que se somava  a oposição do Reino Unido em criar novas estruturas na UE para não duplicar as da NATO, e sobretudo pela inexistência de uma missão bem definida, digamos que era uma comissão instaladora muito precária.

Não havendo nenhuma estrutura organizada nesta área da segurança e defesa na UE, fui nomeado como Experto nacional para integrar uma  “Task Force” designada por Helsinky Task Force, HTF, com a missão de começar a desenvolver capacidades militares para a UE, tendo em vista capacitá-la para cumprir todas as missões de Petersburgo fora do seu território, um trabalho Hercúleo para um pequeno grupo de cerca  quarenta oficiais em permanência, a que acresciam semanalmente dezenas de especialistas em todas as áreas, e em todas as divisões clássicas, Terra, Mar e Ar, e em todas as dimensões desde as tradicionais, Terra, Mar e Ar, até à ciber e espacial, onde inicialmente era preciso saber e listar os somatórios das capacidades de todos os estados nação, para ver o que faltava, as lacunas,  e priorizar as aquisições futuras. 

Acrescia à minha já missão, outras que o Conselho Europeu, por não ter estruturas permanentes, nos incumbia, e assim passávamos de expertos nacionais no grupo referido, a assessores dos embaixadores do COPS, no sentido de  estudar para posteriormente se levantarem todas as estruturas necessárias ao cabal funcionamento duma verdadeira segurança e defesa europeia, nestas tarefas iniciámos a feitura dos primeiros documentos fundadores da Agência Europeia de Defesa, o levantamento duma estrutura de Comando e Controlo Operacional , ainda em levantamento, assumimos a coordenação das primeiras  ligações oficiais com a NATO, depois de desenvolvermos  a nível político os documentos que de designaram por “ Berlim Plus”, enfim, uma quantidade imensa de trabalho, de “Brain Stormings” infindáveis, que nos absorvia , tentando responder aos quesitos provenientes de vários níveis de decisão , política, estratégica, operacional e tática, mas sobretudo diplomática. O HTT na altura era pois utilizado pelo Conselho Europeu como o grupo de militares disponíveis para todos os Serviços, para aproveitar a ligação direta do pessoal que o integrava aos Estados-membros, sem intervenção das representações militares oficiais, desse modo as sucessivas presidências carregavam o grupo de trabalho, sobretudo na sua parte final, para poderem cumprir a sua missão, apresentando progressos. 

Pessoalmente, confesso não nem eu nem Portugal estávamos preparados para trabalhar a este nível prioridades portuguesas já que ao contrário dos outros Estados-membros, Portugal não tinha nomeado ninguém, em “back office”, porque política e militarmente comungava com a posição do Reino Unido, no sentido de impedir ou contrariar que se levantasse uma nova estrutura na UE, que pudesse vir eventualmente substituir a NATO, porque tanto políticos como militares, nem queriam ouvir falar da criação duma europa de defesa.

Terminei esta missão no dia da assinatura do Tratado de Lisboa, Tratado onde o nosso trabalho, o do grupo da MILREP se espelhou, simultaneamente com o do Estado-Maior da UE, que nesse período se ia tomando forma, pois nele estão já definidas as estruturas que durante esse tempo foram tomando forma. 

Que orgulho em ter servido Portugal, e a UE nessa fase de Pensamento, “Brain Stormings” conducentes ao  levantamento de todas as estruturas que vão levar à autonomia estratégica da UE em relação à NATO, juntamente  com políticos, com diplomatas com militares. Que oportunidade imensa que tive, que em nenhum outro lado poderia ter tido. 

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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