Geral Opinião

Faleceu o ditador angolano José Eduardo dos Santos

Estive em Angola há cerca de vinte e dois anos, numa missão de Cooperação Técnico-militar, para ministrar instrução aos futuros oficiais generais das, na altura em formação, Forças Armadas Angolanas, que pretendia juntar as Forças Militares da UNITA e do MPLA, que entretanto já se encontravam novamente em plena Guerra Civil, pelo que a missão à partida era inviável e impraticável, era uma espécie de fábula de “La Fontaine”, pois Portugal, na sua “real politic” dos interesses, sempre apoiou as Forças do MPLA, ou seja, do governo em funções, apesar de ser um governo autocrático, então liderado pelo José Eduardo dos Santos.

Luanda era, na altura, uma terra paupérrima, com esgotos e lixeiras a céu aberto, tresandando a esgoto, um autêntico inferno de trânsito, prostituição e repleta de bandos de crianças sem família, famintos vivendo do que encontrava nos caixotes de lixo, em suma um caos total, uma miséria em todos os sentidos etimológicos da palavra, à qual se somava uma interminável guerra civil.

No meio desta pobreza, José Eduardo dos Santos e os generais angolanos, viviam principescamente rodeados de riqueza oriundas de negócios,  no mínimo duvidosos.

José Eduardo dos Santos vivia isolado, no Futungo de Belas, guardado por uma guarda pretoriana cubana de onde só saía, após securizar todo o caminho, o que incluía desarmar as guardas das unidades, se em frente delas passasse, era um ditador isolado num pequeno paraíso que utilizava as riquezas do país para enriquecer o seu património, o da família e o dos generais, onde se incluía o seu sucessor, o atual Presidente de Angola.

Morreu um corrupto, sanguinário ditador, e como sempre os políticos nacionais vão enterrar os valores e a ética, para salvaguardar os alegados interesses estratégicos nacionais, e irão em comitiva às solenes cerimónias de estado em Luanda, no dia do seu funeral, enaltecendo, se necessário for, as inexistentes, ou muito parcas, qualidades do defunto.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma