Se acredita que sim ou, pelo contrário, arranca sem dó nem piedade qualquer novo cabelo branco que apareça, este artigo é para si.
O ditado popular que leva muitas pessoas a pensar que arrancar um cabelo branco leva a que nasçam vários no seu lugar é talvez um dos mais difundidos. Contudo, à luz dos conhecimentos científicos atuais, tal crença é desprovida de fundamento. Mas, primeiro, temos de explicar-lhe o ciclo de crescimento do cabelo e por que razão ficamos com cabelo branco com o avançar da idade.
Ciclos de crescimento e de repouso
O cabelo é produzido em ciclos que envolvem uma fase de crescimento (anagénese) e uma fase de repouso (telogénese). Durante a fase de crescimento, o pelo forma-se a partir de células da matriz da raiz que se vão diferenciando e se tornam queratinizadas (queratinócitos).
O cabelo cresce à medida que se formam novas células na base da sua raiz e, em determinados momentos, o crescimento para.
O folículo piloso retrai-se e mantém o pelo no seu lugar. Segue-se um período de repouso, após o qual se inicia um novo ciclo em que um novo pelo substitui o velho, que se desprende do folículo piloso. Os cabelos crescem durante 3 a 7 anos e descansam 3 a 6 meses. Num determinado momento, 85 a 90% dos cabelos encontram-se em fase de crescimento.
O que origina a nossa cor de cabelo
A cor do cabelo é controlada por diversos genes e o cabelo preto não é necessariamente dominante sobre o cabelo claro. A cor do cabelo é fornecida pela melanina (pigmento produzido nos melanócitos) da matriz da raiz do cabelo. Essa melanina é transferida para os queratinócitos do córtex e da medula do pelo.
Quantidades e tipos variáveis de melanina produzem tonalidades diferentes na cor do cabelo. Por exemplo, o cabelo louro tem pouca melanina castanha escura (eumelanina), enquanto o cabelo preto tem a quantidade máxima. No cabelo ruivo, a cor resulta de quantidades variáveis de um tipo de melanina vermelho-alaranjado (faeomelanina).
Por que é que o cabelo fica branco?
Com a idade, a quantidade de melanina no cabelo diminui, levando a cor do cabelo a esbater-se ou embranquecer (ausência de melanina). O cabelo cinzento é normalmente uma mistura de cabelos normais, esbatidos e brancos. O embranquecimento do cabelo, designado em dermatologia por canície, resulta de um processo natural determinado essencialmente por fatores genéticos.
A época do aparecimento de cabelo branco varia individualmente. Na maioria dos casos ocorre a partir dos 30 a 40 anos, a não ser em casos familiares, em que surge mais cedo (canície precoce). Em pessoas de raça negra, os cabelos começam a ficar brancos a partir da quinta década de vida. Ao longo dos anos, vários foram os trabalhos científicos que tentaram encontrar explicações para o embranquecimento do cabelo.
Mas, em 2009, cientistas europeus publicaram no FASEB Journal aquela que é atualmente a explicação mais aceite para explicar o aparecimento de cabelo branco. Segundo esta teoria, o cabelo perde o seu pigmento devido à acumulação de peróxido de hidrogénio no folículo piloso.
A catalase é uma enzima antioxidante que atua, em conjunto com outra enzima, na destruição de várias toxinas que se acumulam no nosso organismo, entre as quais o peróxido de hidrogénio. Com o avançar da idade ocorre uma diminuição da taxa de atividade da catalase, o que leva à acumulação de peróxido de hidrogénio, nomeadamente ao nível do folículo piloso. Este aumento do peróxido de hidrogénio ao nível do folículo piloso interfere com a formação de melanina, através da apoptose (morte celular programada) dos melanócitos e alterações no seu DNA, com cada vez menos melanina a ser formada e transferida para os queratinócitos, o que, por fim, condiciona o embranquecimento do cabelo.
Arrancar o cabelo branco ou não, eis a questão
Concluindo, e voltando à pergunta inicial, cada folículo piloso é responsável pela formação de um novo cabelo, iniciando um novo ciclo. Assim, não faz sentido que o arrancamento de determinado cabelo interfira com a pigmentação dos outros cabelos, pois cada um tem a sua própria raiz. Arrancar cabelos pode mesmo danificar definitivamente a estrutura do folículo e levar à sua perda irremediável, pelo que é uma prática desaconselhada.
Fonte: Joaquim Cabrita, dermatologista do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Faro
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