Opinião

As demissões nos Jogos Olímpicos e o vídeo de Paulo Rangel

Desde o início do corrente ano, quatro membros do “Staff” organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio, foram demitidos por terem expressado opiniões, num período distante do seu passado, algumas delas que à luz da sociedade atual e dos novos polícias dos costumes, são consideradas muito graves, mas que o não eram à época em que ocorreram.

Pelas informações veiculadas na Comunicação Social, um deles expressou comentários sexistas há trinta anos, outro terá expressado comentários antissemitas, e esta semana os últimos dois, a dois dias do início dos jogos, foram também demitidos por delitos de opinião do género.

Parece-me que o puritanismo religioso protestante, hipocritamente apologista dos vícios privados, públicas virtudes, e as purgas do movimento “me too“, ambos iniciados nos EUA, alastraram por todo o mundo, condenando pessoas, com ou sem razão, por um determinado comentário ou comportamento, que não são crimes, fazem parte da fragilidade humana que não é perfeita.

A esta ânsia puritana, ninguém escapa, nesta nova era castigadora, normalmente com origem nas redes sociais. Algumas dessas ações punitivas, ainda poderão ser justificadas, caso os comportamentos das pessoas que delas são alvo, sejam crime e sejam realmente provadas em tribunal, outras só por suspeitas são completamente injustificadas e perversas.

Enfim, como se diz na doutrina da Igreja Católica, pode-se pecar por pensamento, por atos e por omissões, e qualquer um deles, nesta sociedade fundamentalista chega para lançar um anátema eterno sobre uma pessoa.

As Igrejas Cristãs, no entanto, falam do perdão dos pecados e da sua remissão, dando oportunidade aos pecadores de se redimirem, os condenados por crimes têm direito a ser reintegrados, mas os novos polícias dos costumes, tudo condenam sem remissão, com ou sem provas, sem analisarem os contextos em que foram proferidas certas declarações, sem se rirem, como se fazia no meu tempo na Instituição Militar, em que os Alferes pela sua inexperiência, cometiam erros próprios da idade, a que chamávamos as alferzadas.

Não quero viver num mundo assim, em que um comentário sexista de há trinta anos, proferido quiçá na juventude, numa bebedeira num jantar com amigos, como no recente caso do Paulo Rangel, persigam um homem por toda a sua vida.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva