Opinião

As vendas ao postigo

Foto: Pedro Granadeiro / Global Imagens

Sendo Oficial do Exército na Reserva, recordo-me perfeitamente de que, quando em exercícios
militares, vulgo manobras, alguma coisa corria mal em termos de treino, de planeamento, de
execução e coordenação do exercício, a culpa era sempre atribuída às comunicações, vulgo
transmissões, que alegadamente tinham falhado e, nunca por erro nosso ou por falta de
preparação, por falta de treino ou mesmo por incompetência.

Normalmente, no final dos exercícios, os avaliadores externos da Nato, internos da
Inspeção Geral do Exército ou do Escalão Superior, nas suas auditorias analisam tudo o que
correu mal, em termos de planeamento, de procedimentos e de execução, por forma a tirar
lições apreendidas para que estas não voltem a ocorrer no futuro, ou seja, a desculpa
alegadamente atribuída às comunicações, normalmente não satisfaz quem avalia.

Ouvindo o Governo da nação, a propósito da gestão desastrosa da pandemia, quando este se
desculpa com a falta de comunicação, recordo-me sempre das nossas semanas de manobras,
em que a culpa recaía invariavelmente nas transmissões, pois o Governo não reconhece nem
quer reconhecer erros, nem quer analisa-los, por forma a tirar desta pandemia, lições
apreendidas, “lessons learned“, para que no futuro próximo ou longínquo não se venham a
cometer os mesmos erros.

Escrevo esta crónica após ter sabido que, o Governo nomeou uma nova “Task Force“, para
melhorar a comunicação das medidas governamentais, para que esta flue entre o governo e
todos os destinatários.

Desejo muita sorte a esta “Task Force“, e aproveito para desde já, solicitar que retirem a
palavra postigo e vendas ao postigo das comunicações governamentais, uma vez que as lojas
atuais não têm postigo nas portas que, normalmente são de vidro, bem como praticamente
ninguém, hoje em dia, utilize essa palavra nas suas comunicações, tendo sido por essa razão
que a palavra postigo tem sido a mais pesquisada no Google, desde que o Governo a
desenterrou.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva