Opinião

2021, ano da morte do Mestre João Cutileiro

Faleceu no dia 5 de Janeiro, o maior escultor contemporâneo em pedra, João Cutileiro de seu nome.

Conheci pessoalmente o Mestre João Cutileiro na década de setenta do século passado no Algarve, no Centro Cultural São Lourenço em Almancil, local onde expunha regularmente, até ao fecho da Instituição.

Estava a admirar, extasiado, uma escultura dum cavalo em pedra com um cavaleiro no dorso montado, quando o mestre me perguntou se estava a gostar da escultura, pois não era normal ver um ainda imberbe adolescente, parado, perdido no tempo e no espaço, a admirar uma obra de arte, ao que respondi afirmativamente, dado que a arte e os cavalos já eram as duas
grandes paixões da minha vida.

O mestre entabulou conversação comigo e respondeu ter também uma grande admiração pelos cavalos e, mostrou-me um caderno, onde tinha desenhado vários cavalos, quando ainda era criança. Nunca mais me esqueci desse momento e pensei que um dia, talvez conseguisse
adquirir um cavalo em pedra esculpido pelas mãos do mestre.

Passados alguns anos, muitos, consegui a custo, por serem raros, adquirir um desenho original em pedra negra gravada, dum cavalo e dum guerreiro da autoria do Mestre, da mesma altura da exposição que, no passado, tinha visto e admirado.

Continuei a admirar a sua obra, cujos originais nunca assinava, tendo numa ocasião, há cerca de três anos, lhe telefonado por estar interessado numa escultura sua, à venda num leilão em Lisboa, que não estava assinada, para saber se a obra era realmente dele, tendo-me respondido afirmativamente, após lhe ter enviado uma foto da mesma.

Não adquiri a obra pois o seu valor era extremamente elevado, no entanto recordo-me da agradável conversa que com ele mantive, sobre sua aspiração em transformar a sua casa-atelier de Évora em museu, tendo para o facto já feito uma doação ao Estado.

Como admirador profundo da sua obra, espero sinceramente que o seu sonho se concretize, facto que seria uma grande mais-valia para Évora e para a cultura portuguesa.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva