Geral Opinião

Ucrânia, a crónica duma morte anunciada

Foto: The Times of Israel

Temos tido notícias pouco animadoras da Ucrânia ultimamente. Zelensky deixou de ser a vedeta internacional que todos querem visitar em Kiev, e passou por todos os parlamentos ocidentais, em vídeo chamada, ou ao vivo e a cores, ou seja, parece ter passado de bestial a besta, de um momento para o outro. Talvez porque a guerra não esteja a correr como o Ocidente esperava, em todos os níveis da guerra, desde o nível político ao nível tático.

Zelensky parece, também estar a perder a sua popularidade internamente, e parece não querer realizar eleições, agarrando-se ao poder, alegadamente por não haver condições de as realizar, por causa da guerra em curso, opinião muito contestada pelo seu novo rival e adversário, o atual Presidente da Câmara de Kiev. 

O Chefe das Forças Armadas da Ucrânia parece também estar agastado com Zelensky, que se tem imiscuído na condução operacional  da guerra, ou seja, tem interferido erradamente nas decisões operacionais, que deviam ser da competência exclusiva do comandante do Teatro de Operações, muitas vezes provocando baixas muito grandes nas suas forças, como foi o caso de Bakhmut e o de na contraofensiva efetuar o ataque contra o ponto mais forte do inimigo, na ânsia de chegar à Crimeia, dois erros-crassos, que me parece virem a ter graves repercussões no futuro da Ucrânia, ou seja, na prática parece-me que a nível operacional, a Ucrânia está a ser derrotada na guerra contra a Rússia.

A nível político o Ocidente não parece ter, também, conseguido derrubar o regime de Putin, nem debilitá-lo, antes pelo contrário, ou seja, o objetivo político Ocidental não foi alcançado, embora a nível estratégico talvez possa haver no final um ganho geopolítico, se nas negociações de paz, a metade da Ucrânia dividida pelo Rio Dnipro, ficar do lado do Ocidente, conseguindo assim alargar um pouco as fronteiras da NATO para Leste.

A nível económico Putin voltou-se para outros mercados, o que levou com que a sua economia só sofresse com as sanções ocidentais, durante um curto período de tempo, até se conseguir readaptar, tendo-o conseguido, com o fortalecimento dos BRICS, da sua posição no Sul Global e na Conferência/Plataforma de Xangai , mudar o seu paradigma económico e também militar, pois esta organização para alem de querer mudar o paradigma económico saído da II Guerra Mundial, também parece querer vir em termos de segurança e defesa rivalizar com a NATO.

Se a administração Biden não conseguir fazer passar no Congresso o pacote financeiro de apoio à Ucrânia, talvez porque a indústria de defesa norte-americana, já tenha esgotado o material de guerra obsoleto que tinha em depósito, podemos considerar que à Ucrânia está em risco de ser dividida e de na prática perder a guerra.

É com grande consternação que escrevo esta crónica, e escrevo-a depois do Secretário-geral da NATO ter afirmado, que deveríamos esperar más notícias da guerra, onde indiretamente combatemos até ao último ucraniano, sem lhes darmos no entanto as capacidades militares necessárias, alegadamente para não escalarmos a guerra.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma