“So you did a miracle, Mr. Prime Minister…” Assim ironizou o primeiro-ministro britânico após a Cimeira do Cairo de 1921, quando Churchill, então Ministro das Colónias, apresentou a criação de vários Estados unindo tribos rivais. Era o milagre do papel: mapas a fingir soberanias.
Hoje, esse mesmo modelo de fragmentação continua vivo, agora sob impulso de Israel, que — à semelhança do Império Britânico — aposta na desagregação dos seus vizinhos para garantir a sua segurança estratégica.
Na Cisjordânia, cinco xeiques de Hebron, liderados por Wadee’ al-Jaabari, desafiaram a Autoridade Palestiniana (AP), propondo a criação de um emirado tribal apoiado por Israel. Esta solução local, rejeitada pela AP e criticada por muitos palestinianos, é tolerada em silêncio por Telavive. Não resolve o conflito, mas esvazia o projeto nacional palestiniano.
Em Gaza, algo semelhante está em curso: Israel aproveita as rivalidades entre clãs e tribos para enfraquecer o Hamas e inviabilizar qualquer governo coeso.
Este método não é novo:
— No Líbano, Israel apoiou milícias sectárias contra o Hezbollah.
— Na Síria, beneficia da fragmentação pós-guerra civil, onde o poder central é substituído por enclaves étnicos e religiosos.
Tudo isto segue a lógica delineada no Plano Yinon (1982): a segurança de Israel dependeria de Estados árabes vizinhos enfraquecidos e divididos internamente.
Ao promover clivagens religiosas, étnicas e tribais, Israel evita ter um interlocutor único e impede a consolidação de uma Palestina soberana.
É a balcanização como estratégia de contenção.
Uma Palestina fragmentada é uma Palestina eternamente adiada.
Nuno Pereira da Silva, Coronel na Reforma

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