Hoje, dia 27 de Janeiro celebra-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Saiba tudo sobre este acontecimento que marcou a história mundial.
O que foi o Holocausto?
O Holocausto foi a perseguição sistemática e o assassinato de 6 milhões de judeus europeus pelo regime nazista alemão, seus aliados e colaboradores. O Holocausto foi um processo contínuo que ocorreu por toda a Europa entre os anos de 1933 a 1945.
A era do Holocausto começou em janeiro de 1933, quando Adolf Hitler e o Partido Nazista chegaram ao poder na Alemanha, e terminou em maio de 1945, quando as Potências Aliadas derrotaram a Alemanha nazista no fim da Segunda Guerra Mundial. O Holocausto também é às vezes referido como “a Shoah”, palavra hebraica que significa “catástrofe”.
Quando chegaram ao poder na Alemanha, os nazistas não começaram a realizar assassinatos em massa de imediato. No entanto, rapidamente começaram a usar o governo para atacar e excluir os judeus da sociedade alemã. Dentre outras medidas antissemitas, o regime nazista alemão promulgou leis discriminatórias e realizou/apoiou atos de violência organizada contra os judeus alemães. A perseguição nazista aos judeus tornou-se cada vez mais radical entre os anos de 1933 e 1945. Essa radicalização culminou na elaboração de um plano ao qual os líderes nazistas se referiam como a “Solução Final da Questão Judaica”. A “Solução Final” foi um eufemismo para designar o assassinato em massa, organizado e sistemático, dos judeus europeus. O regime nazista alemão implementou este processo de genocídio entre os anos de 1941 e 1945.
Porquê os judeus?
Os nazistas tinham como alvo os judeus porque eram radicalmente antissemitas. Isto significa que eles tinham preconceito e ódio contra os judeus. Na verdade, o antissemitismo foi um princípio básico da sua ideologia, bem como a base de sua visão-de-mundo.
Os nazistas acusaram falsamente os judeus de causar os problemas sociais, econômicos, políticos e culturais pelos quais passava a Alemanha na ocasião antecedenete à eclosão da Guerra. Em particular, eles os culparam pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Muitos alemães receberam bem estas declarações nazistas.
A raiva pela derrota na Primeira Guerra Mundial e as sucessivas crises econômicas e políticas contribuíram para o aumento do antissemitismo na sociedade alemã. A instabilidade da Alemanha sob a República de Weimar (1918-1933), o medo do comunismo e os choques econômicos originários do impacto da Grande Depressão também tornaram muitos alemães mais recetivos às ideias nazistas, dentre elas o antissemitismo.
No entanto, não foram os nazistas que inventaram o antissemitismo. O antissemitismo é um preconceito antigo e generalizado que tem assumido muitas formas ao longo da história. Na Europa, ele remonta aos tempos antigos.
Na Idade Média (500-1400), os preconceitos contra os judeus baseavam-se principalmente nas primeiras crenças e pensamentos cristãos, particularmente no mito de que os judeus foram responsáveis pela morte de Jesus. A suspeita e a discriminação enraizadas em preconceitos religiosos continuaram a existir no início da Europa moderna (1400-1800), e os líderes de grande parte da Europa cristã isolaram os judeus da maioria dos aspetos da vida econômica, social e política de seus domínios.
Esta exclusão contribuiu para gerar o estereótipo do judeu como estrangeiro. À medida em que a Europa se tornou mais secular, muitos locais suspenderam a maioria das restrições legais contra os judeus, mas isso não significou o fim do antissemitismo.
A duas raças
O Partido Nazista promoveu uma forma particularmente virulenta de antissemitismo racial, sendo ela central para sua visão-de-mundo baseada em uma hierarquia racial, cuja crença era apoiada pelo Partido. Os nazistas acreditavam que o mundo estava dividido em diferentes raças e que algumas delas eram superiores às demais. Eles consideravam os alemães como membros da raça “ariana”, supostamente superior a todas as outras, e que os “arianos” estavam tolhidos por uma luta pela sobrevivência contra as raças inferiores. Além disso, os nazistas acreditavam que a chamada “raça judaica” era a mais baixa e perigosa de todas. De acordo com os nazistas, os judeus eram uma ameaça que precisava ser removida da sociedade alemã. Caso contrário, insistiam os nazistas, a “raça judaica” corromperia e destruiria permanentemente o povo alemão. A definição nazista, baseada na crença em raça, sobre quem era judeu, incluía muitas pessoas que se identificavam como cristãs ou que sequer praticavam o judaísmo.
Políticas e medidas antissemitas
Entre 1933 e 1945, a Alemanha nazista, os seus aliados e colaboradores implementaram uma ampla gama de políticas e medidas antissemitas, mas essas políticas variavam de um local a outro. Assim, nem todos os judeus vivenciaram o Holocausto da mesma forma mas, em todos os casos, milhões de pessoas foram perseguidas e mortas simplesmente porque eram identificadas como judias.
Em todos os territórios controlados pela e alinhados com a Alemanha, a perseguição aos judeus assumiu uma variedade de formas:
- Discriminação legal sob a forma de leis antissemitas. Essas incluíam as Leis Raciais de Nuremberg e inúmeras outras leis discriminatórias.
- Várias formas de identificação e exclusão pública. Essas incluíam propaganda antissemita, boicotes a empresas de propriedade judaica, humilhação pública e sinais diacríticos obrigatórios (tais como o uso crachá com a Estrela de Davi, que era usado como braçadeira ou costurada em roupas dos judeus).
- Violência organizada. O exemplo mais notório foi a Kristallnacht (Noite dos Vidros Quebrados). Houveram também incidentes isolados e muitos pogroms (motins sangrentos).
- Deslocamento físico. Os perpetradores usaram a emigração forçada, o reassentamento, a expulsão, a deportação e a guetização para deslocar fisicamente indivíduos e comunidades judaicas inteiras.
- Internação. Os perpetradores internavam forçadamente os judeus em guetos superlotados, campos de concentração e campos de trabalho escravo onde muitos morreram de fome, por doenças e por outras condições desumanas de tratamento.
- Roubo e saque generalizado. O confisco de bens, objetos pessoais e de valor dos judeus foi uma parte fundamental do Holocausto.
- Trabalho forçado. Os judeus eram obrigados a realizar trabalhos escravos para ajudar no esforço de guerra dos países do Eixo ou para o enriquecimento das organizações nazistas, militares e/ou empresas privadas.
Muitos judeus morreram como resultado dessas políticas. Mas até 1941, o assassinato sistemático, em massa, de todos os judeus não era ainda parte da política nazista. A partir daquele ano, os líderes nazistas decidiram implementar o plano de assassinato em massa dos judeus. Eles designaram tal plano como a “Solução Final da Questão Judaica”.
Solução Final da Questão Judaica
A “Solução Final da Questão Judaica” nazista (Endlösung der Judenfrage) foi o assassinato deliberado e sistemático, em massa, dos judeus europeus. Foi a última etapa do Holocausto e foi levada a cabo de 1941 a 1945. Embora muitos judeus tenham sido mortos antes do início da “Solução Final”, a grande maioria das vítimas foi assassinada durante este período.
Como parte da “Solução Final”, a Alemanha nazista cometeu assassinatos em massa em uma escala sem precedentes usando dois métodos. Um deles foi o fuzilamento em massa; unidades militares e militarizadas alemãs efetuaram fuzilamentos em massa nos arredores de aldeias, cidades e capitais na Europa Oriental. O segundo deles foi através da asfixia das vítimas por gases venenosos. As operações de gaseamento foram conduzidas em campos de extermínio e em caminhões que matavam por gaseamento.
Cerca de 2 milhões de judeus foram assassinados através de fuzilamentos em massa ou nos caminhões de gás em territórios tomados das forças soviéticas.
Campos de concentração
No final de 1941, o regime nazista começou a construir campos fixos de extermínio, especialmente projetados para tal, na Polônia então ocupada pela Alemanha. Em português, os campos de extermínio são muitas vezes chamados de “campos de concentração”. A Alemanha nazista operava cinco campos de concentração: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka e Auschwitz-Birkenau. Eles construíram estes campos de concentração com o único propósito de assassinar judeus de forma mais eficiente e em escala massiva. O principal método de assassinato nos campos de concentração era o gás venenoso liberado em câmaras lotadas por judeus lá colocados à força ou nos caminhões de gás hermeticamente fechados.
As autoridades alemãs, com a ajuda dos seus aliados e colaboradores, transportavam judeus de toda a Europa para esses campos de cncentração. Eles disfarçavam suas intenções chamando os transportes para os campos de concentração de “ações de reassentamento” ou “transportes de evacuação”. A maioria dessas deportações foram feitas por via férrea. Com o propósito de transportar grandes quantidades de judeus de forma eficiente para os campos de extermínio, as autoridades alemãs utilizaram o extenso sistema ferroviário europeu, bem como outros meios de transporte. Em muitos casos, os vagões dos comboios utilizados eram aqueles de transporte de carga; e, em outros casos, eram vagões de passageiros.
As condições dos transportes de deportação eram horríveis. As autoridades locais alemãs e seus colaboradores forçavam os judeus de todas as idades a entrarem em vagões superlotados. Eles geralmente tinham que ficar de pé, por vezes durante dias, até o comboio chegar ao seu destino. Os perpetradores privavam-nos de comida, água, casa de banho, aquecimento e cuidados médicos. Os judeus morriam frequentemente no caminho devido às condições desumanas a que eram submetidos.
A grande maioria dos judeus deportados para os campos de extermínio foram gaseados quase que imediatamente após sua chegada. Alguns judeus que os oficiais alemães acreditavam serem saudáveis e fortes o suficiente eram selecionados para trabalhos escravo.
Em todos os cinco campos de concentração, oficiais alemães forçavam prisioneiros judeus a ajudar no processo de extermínio de seus irmãos étnicos. Dentre outras tarefas, esses prisioneiros tinham que separar os pertences das vítimas e retirar os corpos já mortos de dentro das câmaras de gás. Unidades especiais se livraram dos milhões de cadáveres através de enterros em massa, queimando-os em piras ou em grandes crematórios especialmente desenvolvidos para aquele fim.
Cerca de 2,7 milhões de homens, mulheres e crianças israelitas foram assassinadas naqueles cinco campos de concentração.
O que eram os guetos?
Os guetos eram áreas de cidades ou aldeias onde os alemães invasores criaram e obrigaram os judeus a viver em condições de superlotação e insalubridade.
As autoridades alemãs frequentemente fechavam tais áreas construindo muralhas ou outras barreiras ao seu redor. Os guardas impediam os judeus de sair sem permissão.
Alguns guetos existiram durante anos, mas outros existiram apenas durante meses, semanas, ou mesmo dias como locais de detenção de judeus antes de sua deportação ou assassinato imediato.
Os funcionários alemães criaram os guetos pela primeira vez em 1939-1940, na Polônia ocupada pela Alemanha. Os dois maiores deles foram localizados nas cidades polonesas (ocupadas) de Varsóvia e Lodz (Łódź).
Qual era o objetivo destes guetos?
As autoridades alemãs estabeleceram originalmente os guetos para isolar e controlar as grandes populações judaicas que viviam na área da Europa Oriental ocupada pelos nazistas. Inicialmente, eles concentravam os residentes judeus de uma cidade ou das áreas ou regiões circunvizinhas. No entanto, a partir de 1941, oficiais alemães também passaram a deportar judeus de outras partes da Europa (incluindo da Alemanha) para alguns desses guetos.
O trabalho escravo dos judeus tornou-se uma característica central da vida de muitos guetos. Em teoria, tal era dito que seria para ajudar a pagar a administração do gueto, assim como apoiar o esforço de guerra alemão. Às vezes, fábricas e oficinas eram estabelecidas nas em proximidade mútua apenas para explorar os judeus presos no gueto para que efetuassem trabalho escravo. O trabalho era, frequentemente, manual e extremamente debilitante.
A vida nos guetos era miserável e perigosa. Havia pouca comida, além do saneamento e dos cuidados médicos serem extremamente limitados. Centenas de milhares de pessoas morreram de fome, de doenças contagiosas, de exposição a temperaturas extremamente baixas, bem como de exaustão pelo trabalho escravo. Os alemães também assassinaram os judeus aprisionados nos guetos através de espancamentos brutais, torturas, fuzilamentos arbitrários e com o uso de outras formas de violência arbitrária.
Apesar de tudo, os judeus nos guetos procuravam manter um senso de dignidade e comunidade. Eles criaram precárias escolas, bibliotecas, serviços sociais comunitários e instituições religiosas proporcionavam algum grau de ligação comunal entre os residentes.
Quem foi o responsável pelo Holocausto?
Muitas pessoas foram responsáveis pela concretização do Holocausto e da Solução Final.
No nível mais alto, Adolf Hitler inspirou, ordenou, aprovou e apoiou o genocídio dos judeus da Europa. No entanto, Hitler não agiu sozinho. Ele também não traçou diretamente um plano exato para a implementação da Solução Final. Outros líderes nazistas foram os que coordenaram, planejaram e implementaram diretamente o assassinato em massa dos judeus. Entre eles, estavam Hermann Göring, Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich e Adolf Eichmann.
Entretanto, milhões de alemães e outros europeus também participaram da execução do Holocausto. Sem o envolvimento deles, o genocídio do povo judeu na Europa não teria sido possível. Os líderes nazistas se apoiaram nas instituições e organizações alemãs; em outras potências do Eixo; na burocracia local e em instituições idem; bem como em indivíduos.
Como acabou o Holocausto?
O Holocausto terminou em maio de 1945, quando as principais potências Aliadas (Grã-Bretanha, Estados Unidos e União Soviética) derrotaram a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
À medida que as forças Aliadas se deslocavam pela Europa, numa série de ofensivas militares, elas encontravam e entravam nos campos de concentração libertando os prisioneiros sobreviventes, muitos dos quais eram judeus. Os Aliados também encontraram e libertaram os sobreviventes das chamadas “marchas da morte”. Estas marchas forçadas consistiam em grupos de prisioneiros dos campos de concentração judeus e não judeus que tinham sido evacuados dos campos sob a guarda das SS para andar até morrer de exaustão e frio.
Mas a libertação não trouxe o encerramento do processo. Muitos sobreviventes do Holocausto enfrentaram ameaças contínuas de antissemitismo violento e também deslocamento quando procuraram reconstruir suas vidas nos locais onde haviam vivido antes da Guerra Milhões haviam perdido seus familiares, enquanto outros procuraram durante anos, nem sempre com sucesso, seus pais, esposos, filhos e irmãos desaparecidos.
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