Geral Opinião

 Paracetamol, o Autismo e as Doenças que Regressam

Ouvi o Presidente dos Estados Unidos afirmar que o paracetamol seria perigoso para grávidas e até causador de autismo. Mesmo que assim fosse, o que duvido muito, esse assunto não é para ser tratado em palanques políticos nem em discursos improvisados. Cabe ao Food and Drug Administration (FDA), através do seu comité científico, avaliar com rigor as evidências, analisar dados, publicar conclusões fundamentadas. Não a partir de perceções de um iluminado, e muito menos de alguém que invoca em vão Deus, como se isso fosse argumento válido em matéria de saúde pública.

A verdade é que, até ao momento, não há qualquer prova científica sólida que estabeleça uma relação causal entre o paracetamol e o autismo. Existem estudos que apontam correlações estatísticas, hipóteses em aberto, mas nada que permita decretar certezas. A própria Organização Mundial da Saúde fala em evidência “inconsistente”.

O verdadeiro problema da saúde nos Estados Unidos não se resume ao paracetamol. É muito mais evidente, e perigoso, no que toca às vacinas. Fala-se agora na possibilidade de deixar de as tornar obrigatórias. Se isso acontecer, será impossível conter o reaparecimento de doenças que tinham sido erradicadas ou controladas. E o perigo não ficará circunscrito aos EUA: num mundo global, de turismo e negócios incessantes, um vírus não pede passaporte. O que começar em solo americano pode rapidamente espalhar-se, de forma exponencial, para todos os continentes.

Defendo o livre arbítrio, sim, e a liberdade individual de cada um. Mas essa liberdade só pode ir até ao ponto em que não colida com a liberdade e a saúde dos outros. Quando a recusa em vacinar põe em risco comunidades inteiras, já não estamos perante uma escolha pessoal: estamos perante uma irresponsabilidade coletiva.

E aqui fica a interrogação: poderá uma nação que tantas vezes se proclama guardiã da liberdade transformar-se, por descuido ou populismo, numa ameaça sanitária para todo o planeta?

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma