Otelo Saraiva de Carvalho marcou indelevelmente o Século XX Português.
Como militar planeou e executou, com sucesso, o Plano de Operações do golpe de estado militar do dia 25 de Abril, plano que, quando foi executado, passou a Ordem de Operações.
Comandar as tropas em operações, fazê-las atuar coordenadamente, reagir atempadamente quando qualquer coisa não corre como planeado, dar ordens parcelares a unidades para reagir a imprevistos, enfim não é tarefa fácil, e no caso em apreço, porque inicialmente quem estava no Posto de Comando situado no Regimento de Engenharia 1 na Pontinha, era um punhado reduzido de oficiais, que tinham que ir conduzindo a operação com parcos meios, ainda mais difícil se tornava.
Como me explicou um grande amigo, que desde o início esteve no PC na Pontinha, o número de oficiais presentes foi aumentando à medida que a operação foi tendo sucesso, tendo por lá passado alguns Oficiais Generais, a quem depois da Operação já estar a ser um sucesso, acabaram por ter tido grande influência política no País.
Não gostaria de recordar o Otelo, no dia seguinte ao seu falecimento, na sua atuação política posterior, ou seja, logo a partir do dia 26 de Abril, pois o PCP que era na altura o único partido organizado e com ligações fortes à URSS, tomou imediatamente conta do vazio de poder existente no país, e muitos erros e excessos foram cometidos até ao 25 de Novembro, tendo muitos militares sido, alguns por impreparação política, ingenuamente manipulados, outros não, como era o caso de Vasco Gonçalves, que já pertencia ao PCP, que paulatinamente foi introduzindo, ainda na ditadura e posteriormente, vários dos seus elementos camufladamente na Instituição Militar.
Há no entanto uma faceta de Otelo que não podemos, nem devemos esquecer, a do dirigente da Frente de Unidade Popular e das suas ligações às FP 25 de Abril, grupo terrorista que atuou neste país, que foi responsável pela morte de 13 pessoas e que perpetuo vários atentados que aterrorizaram milhares de pessoas, numa altura em que a Democracia já estava consolidada, enfim…
Um homem com duas facetas opostas, tal como uma moeda que tem duas faces, a faceta de herói e a de anti-herói, simultaneamente, sendo que ambas passarão à história pelo melhor e pelo pior que neste país aconteceu.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
Adicionar comentário