Opinião

Os Velhos & a pandemia

Não posso falar em nome de todos os velhos, ou idosos, ou da 3ª Idade, mas falo por mim que já tenho a etiqueta de “longevidade” e devo dizer que há muitos com a minha idade, que por esta ou aquela razão, estão em lares ou a serem maltratados e explorados pela própria família, por interesses económicos.

Já não falando de que a própria Sociedade os afasta das suas relações, propiciando um total isolamento, pois por sorte ou azar, possam ter resistido e assistido à morte daqueles que lhes são mais próximos ao nível de amizade.

As faltas vão surgindo, falta de memória, de ouvido, da visão, o que totaliza um completo sentimento de solidão, pois deixa de ler, ouvir as pessoas e a rádio ou televisão, restando a saudade.

Nunca o viver assim é satisfatório e a morte torna-se num desejo rápido e consistente. A própria Sociedade esquece-se dos seus velhos.

Até agora, sobre os Lares na pandemia, exclusivamente do que se fala, não é das pessoas que lá estavam… é do cheiro nauseabundo da urina.

Para os velhos só resta o cheiro a mijo e a morte que tarda em aparecer.

Não deixo as culpas para os outros, eu falo em interesses económicos, e digo objectivamente, para uso e abuso das suas pensões/reformas ou de valores de heranças, e são pela sua inocência, falta de conhecimentos e por doença, colocados em isolamento, mesmo em casa, sem qualquer recurso, sendo manietados por completo e por vezes maltratados.

Isto é um processo policial, pois na sua grande maioria, são casos de exploração de filhos. Irmãos e genros ou noras, mas que nunca vêm a lume pois tratam-se de “crimes” dentro de casa e por lá em segredo ficam.

O pior é a tortura dos velhos, para saque total dos seus valores, fazendo crer na impossibilidade de poder administrar os seus próprios bens, pela idade, incapacidade de mexer num computador que serve de desculpa para evitar acesso às contas bancárias, ou pela própria incapacidade de locomoção ou doença.

Tudo serve para”lixar” o velho ou velha.

Por outro lado, se está num Lar, ou mesmo em casa, e não tem a sorte de ter alguém da sua confiança que lhe resolva os problemas, infelizmente acaba também por ser explorado na mesma.

No Lar, a exploração começa nas funcionárias e termina na própria gerência do local que se apropria descaradamente das posses do utente que quando “acorda” já tem para pagar extras que nunca mais acabam, desde águas, fraldas, remédios que nunca usou e muitos etcetras.

Se o idoso está em casa, agora, com a desculpa da pandemia, não consegue ter assistência médica, pois dizem que não há serviços domiciliários de médicos. Para marcar no posto da sua morada tão pouco consegue pois querem mails ou o que quer que seja que só complica a vida de quem precisa.

Conclusão: Estas situações, que são muitas e variadas, carecem de ter apoio social, legal e policial, o que tudo junto potencia a necessidade de um novo Serviço agregado à Segurança Social, tipo “ policia de costumes”.

Nunca fui a favor de policiamento, mas este tipo de situações e cada dia está ainda pior, e variado na sua requintada exploração dos idosos requer e para já uma medida drástica para terminar de vez com esta injustiça continuada, aliás, como se faz com as crianças maltratadas ou abandonadas.

Não basta já as doenças, os maus tratos e o que a idade longa transporta, como ainda por cima o saque a tudo o que se conquistou trabalhando.

Todos deviam proteger a velhice pois todos para lá caminham e alguns nem lá chegam.

Mas só quando lá chegam se recordam que nada fizeram.

Helder Martins