Opinião

Os fogos voltam sempre aos mesmos sítios

Três anos volvidos após o último grande incêndio em Monchique, novo incêndio lavrou este fim de semana.

Há alguns anos tive contato com a realidade dessa idílica serra e da terra sua sede de concelho, com a presidência e a vereação, que se mantêm, é que têm como objetivo primário evitar que os fogos dizimem o concelho.

A presidência da edilidade, embora tenha vontade, tem uma enorme escassez de recursos para poder agir eficientemente na prevenção dos fogos, e assim evitar as desastrosas consequências dos mesmos, bem como não tem capacidade para efetuar intervenções de fundo, como o emparcelamento do território.

Tem dificuldade em capinar o mato, tem dificuldade em patrulhar a zona que é uma zona florestal muito vasta, não possui drones com capacidade de deteção do incêndio mal ele deflagre, tem uma população idosa, e tem, em minha opinião, um grande desordenamento florestal, quase que uma monocultura de eucaliptos, e falta de aceiros largos para compartimentar a floresta.

A resolução dos problemas elencados exige vontade política dos Organismos Centrais do Ministério da Agricultura para os resolver, legislação adequada e recursos disponíveis para realizar os trabalhos de engenharia necessários que devem ser realizados preferencialmente no Inverno.

Percorri a Serra de Monchique centenas de vezes, enquanto comandante do RI 1 sedeado em Tavira, e executei centenas de operações militares, patrulhamento de área, de zona, golpes de mão, emboscadas, com a tropa que estava sob meu comando, em que com cerca de duzentos homens sedeados em Marmelete na sua escola primária, a nossa base mal fechava as escolas, e durante o período do meu comando não houve incêndios na região, pois a Serra estava permanentemente ocupada, e mal havia um foco de incêndio, este era transmitido às competentes autoridades, que não deixavam que o incêndio se propagasse.

Não havendo ninguém a ocupar a serra, na época de incêndios, tem que se investir em meios eletroeletrónicos de vigilância, que têm de controlar continuamente a serra, controlar dez drones com uma câmara com boa resolução, é barato, existem no mercado, é preciso vontade para resolver o problema e detetar os focos de incêndio, que por experiência sei que existem às dezenas por semana, alguns naturais, outros não.

Este ano tinha sido noticiado que escandalosamente a madeira queimada dos incêndios de há três anos, ainda se acumulava em diversos locais na serra, madeira essa que não tinha sido escoada por não haver centrais de biomassa, algo inadmissível que não exista num país que arde todos os anos, perante a impassividade dos sucessivos governos e responsáveis, quais Nero a verem incendiar Roma.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva