Durante a grande depressão, nos anos 30 do século passado, nas EUA, surgiram as maratonas de dança. Os pares dançavam durante dias a fio, até que apenas um se mantivesse de pé.
Havia uma recompensa para esse casal, mas muitos dos que participavam faziam-no apenas porque assim teriam direito a sete refeições diárias. Ainda que não pudessem parar de dançar para saborear, era uma oportunidade de matar a fome.
Em 1969, Sydney Pollack transformou em filme este romance de Horace McCoy, que nos mostra como a miséria, as emoções e o desgaste físico e emocional dos participantes eram explorados até ao limite nessas maratonas.
Em 2021, depois de uma grande maratona que começou em Março de 2020, muitos já foram obrigados a desistir, outros desfaleceram e alguns continuam, mas moribundos.
Faço hoje 60 anos e sinto que apesar de ser um felizardo que fui passando até ao momento sem contágio, com saúde e sem grandes problemas financeiros, perdi “anos” de vida neste período da minha existência em que me foi brutalmente subtraído o direito de conviver, de fazer desporto, de ver a minha família, enfim, de fazer grande parte das coisas que que faziam parte do meu “normal”.
Agora que cada vez mais o “sonho da imortalidade” se desvanece, a vontade de viver cada dia, o aproveitar cada hora, o gozar cada momento, fazem cada vez mais sentido e tornam-se inequivocamente imprescindíveis.
Sejam bem-vindos à vida.
Fotografias e Texto de Carlos Sousa/KPhoto
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