Opinião

O regresso da Guerra-fria

Existe normalmente uma grande hipocrisia, por parte da Comunicação Social, quando esta comenta os assuntos políticos relacionados com a lentidão da União Europeia em tomar decisões, facto que muito influencia a relação bipolar de amor-ódio que os portugueses têm com a instituição.

Esta lentidão nas tomadas de decisão na União Europeia deve-se, exclusivamente, ao facto da União não ser uma federação de Estados, o que implica que as decisões relacionadas com os assuntos de maior importância, tenham que ser consensuais, ou seja, têm que merecer o acordo de todos os estados-membros, facto que só se consegue negociando, cedendo, ou seja, através da difícil e demorada arte da diplomacia.

Esta queixa frequente, não foi no entanto feita no caso da recente tomada de posição da União, em relação ao caso de terrorismo do estado, perpetrado pela Bielorrússia, ao desviar um avião da Ryanair, em pleno voo, para prender um jornalista oposicionista do regime, dado que desta vez houve uma tomada de posição rápida, unânime e inédita de todos os Chefes de Estado Europeus relativamente a este assunto, dada a sua extrema gravidade.

Quando o assunto é de tal forma grave, quando há uma ameaça ao Direito Internacional e à Segurança, ou seja, quando há uma ameaça externa, um inimigo comum, a decisão consensual no seio da União foi, e em minha opinião será sempre, conseguida sem delongas, não havendo sequer objeções nem da Hungria, nem dos Checos, nem da Polónia, estados-membros normalmente com posições desalinhadas dos outros, mas que nestas ocasiões recordam a razão de terem voluntariamente querido integrar a NATO e aderido à UE, após a queda do Pacto de Varsóvia.

A Rússia e seus satélites voltaram na atualidade a constituir, na realidade e de novo, uma ameaça externa à segurança do Ocidente pelo que, em minha opinião, regressámos a um novo período da Guerra-fria, depois de um período de desanuviamento.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva