Com o julgamento do mediático do ex-primeiro-ministro José Sócrates, como em todos os julgamentos, pretende-se no final das várias tramitações dos processos, e no final dos mesmos, descobrir a verdade sobre uma determinada realidade.
Nos diversos julgamentos a que assistimos nos filmes americanos, todas as testemunhas, invariavelmente, juram sobre a Bíblia dizer só a verdade, nada mais que a verdade, por forma a que os jurados e os juízes, no final dos mesmos deem o seu veredicto, a sua verdade.
Perante uma realidade ou perante um determinado evento, normalmente cada pessoa descreve-o de forma diferente de acordo com o seu ponto de vista, de acordo com a sua a sua perceção, podendo haver várias descrições ou narrativas diferentes do mesmo evento, sendo todas verdadeiras. A este propósito, Aristóteles dizia que a verdade é o discurso sobre a verdade e não a verdade.
A verdade tem sido por este motivo um tema recorrente da filosofia ao longo dos tempos, desde os pré-Socráticos, em que a verdade era o oposto do falso, um maniqueísmo simplista, até Nietshe que definia a verdade como uma metáfora, para só me referir a dois períodos civilizacionais distintos.
Em termos teológicos Jesus Cristo definiu-se a si próprio como o Caminho a Verdade e a Vida, para se chegar ao Pai, o que levou a que no Ocidente, e sensivelmente até meados do século XVIII, a verdade tenha estado sempre ligada à moral.
Na sociedade atual em que vivemos, de tradição Judaico- Cristã, a verdade desligou-se da moral e dos seus julgamentos, mas continua intrinsecamente ligada à ética.
Concluo que no processo de José Sócrates assistimos a várias narrativas e discursos sobre a verdade, de acordo com os vários pontos de vista dos diversos intervenientes, que descrevem a mesma realidade, ou seja, que a verdade acaba por ser uma metáfora.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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