Geral Opinião

O genocídio russo em Butcha

Durante a minha vida militar estive em Cooperação Militar em Angola, a ministrar formação no Instituto de Estudos Superiores Militares, quando se reacendeu a guerra civil, ou seja, quando Savimbi na sequência dumas eleições, que não foram livres nem justas, quis voltar à guerra.

No comício, em Luanda, onde Savimbi decide voltar à guerra, um dos oficiais Comandos Angolanos das antigas FAPLA, conta numa aula, com um olhar louco de ainda patente satisfação, como nele tinha metralhado a multidão, e como as pessoas ensanguentadas, algumas com cabeças desfeitas, morriam, sofriam e gritavam em desespero.

Não me esqueci da cara, do referido Major, a contar o caso, com um ar tresloucado e com uma grotesca satisfação, e de como a história profundamente me perturbou, pois estava na frente de um psicopata, criminoso, que mostrava uma satisfação imensa no crime em série que tinha cometido, em conjunto com outros camaradas, contra um grupo étnico e um partido que não eram o seu.

Ao olhar para os civis mortos e torturados em Butcha, na Ucrânia, voltei a recordar o episódio e a pensar como o ódio ao diferente, como o ódio ao inimigo, como o espírito de grupo pode fomentar e desenvolver um ódio coletivo, que leva um grupo ou vários grupos dum Exército a cometerem crimes de genocídio, conforme tipificados pela ONU. 

Mal está um Exército que no seu seio, permita que existam psicopatas armados, capazes de efetuarem semelhantes crimes, deixando-os ao seu livre arbítrio, como diria Santo Agostinho, porque ainda não quero crer que, à semelhança de Hitler e da sua política, Putin queira exterminar um grupo étnico, que é o seu, e a que na sua narrativa, chama de irmão, muito embora mesmo entre irmãos, a Bíblia narra-nos a forma como Caim matou Abel.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

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