Geral Opinião

O Gambito da Rainha e o cansaço das atuais guerras

Não vejo intuição em nenhum dos intervenientes nas duas atuais guerras.

Terminei de ver a série “Gambito da Rainha” na Netflix, que conta a história de Elizabete Harmon uma campeã mundial de Xadrez dos EUA, que em plena guerra-fria derrota Borgov, o anterior campeão mundial do jogo de nacionalidade russa, algo extraordinário, porque foi uma vitória numa modalidade onde os russos sempre deram cartas, e onde um grande número de pessoas o jogam inclusive nos jardins por gente idosa, tendo por isso sido derrotados no seu próprio jogo, o que na altura era um feito de relevância política, galvanizador do ora designado Ocidente alargado, que curiosamente inclui o Japão, a Austrália e a Coreia, na nova guerra-fria, irracional, em que o mundo se está novamente a envolver.

Harmon fez uma carreira fulgurante, independente da política, das federações, tendo mesmo recusado o apoio dos evangélicos para se deslocar ao campeonato do mundo na Rússia, que queriam hipocritamente dela se aproveitar, para propagandear os feitos duma Cristã sobre o ateísmo Soviético e o Marxismo-Leninismo que definia a religião como o ópio do povo e a proibia.

Não obstante, Harmon não ter tido apoios institucionais ganhou porque para além da técnica e das teorias escritas em vários manuais, do estudo de jogos dos grandes mestres, para além dos conselhos dos mestres seus amigos que a admiravam e amavam, ela também seguia a sua intuição, ela conseguia ter uma visão de jogo, em que conseguia no meio do jogo surpreender o adversário, que lhe chegou a propor um empate, conseguia no fim ao cabo antever as jogadas do adversário, conseguia quando mexia determinada peça perceber todas as jogadas e antever o fim do jogo, algo de tão raro que só os grandes génios conseguem.

Ao ver esta série conseguimos perceber a razão porque o xadrez tem muito que ver com a guerra, com a estratégia e com a tática, sua aplicação prática, mas que a influencia, e cujo sucesso ou insucesso a o obriga a manter ou corrigir, pois é no jogar das peças incluindo os peões, ou seja  as unidades táticas, que se tem sucesso ou não na estratégia.

Resumindo, para se ganhar uma guerra ou um jogo de xadrez é necessário ter tudo o que referi a propósito de Harmon, ter intuição, conhecimento, visão de jogo, antever as jogadas do adversário para se ter sucesso, conseguir ver qual o resultado da mexida duma das peças, duma das unidades, no sucesso do jogo ou da guerra, na vitória.

É por tudo o que afirmei que estou, como o Balduíno, personagem de Jorge Amado, conhecido pelo cognome de “cansado de guerra”, que eu também estou cansado de analisar as duas guerras em curso, pois nelas não vejo nenhum dos protagonistas definir as estratégias corretas e mexer as unidades no sentido de ter sucesso, nem vejo rasgo em nenhum chefe nem ao nível político, nem estratégico, nem tático, vejo sim teimosia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Tags