Geral Opinião

O Campeonato do Mundo de Futebol, os interesses nacionais versus o cumprimento dos Direitos Humanos

Foto: DW

A ONU nasceu fruto do liberalismo político e da vontade do Presidente Wilson, dos EUA pós II Guerra Mundial, devendo ser uma plataforma multilateral por excelência, onde os estados diplomaticamente se deveriam expressar resolver e dirimir seus conflitos, algo utópico, pois logo na sua génese se cedeu ao Realismo político com a criação do Conselho de Segurança que lê uma expressão do poder de cinco potências cujo direito de veto se pode sobrepor ao voto da maioria dos estados expressos na sua Assembleia Geral, onde estão representados todos os estados reconhecidos pela organização. O Realismo à partida sobrepôs-se à utopia do Liberalismo.

Os Direitos Humanos e o Direito Humanitário da Guerra, malgrado serem princípios base que todos os países assinaram e ratificaram na ONU, sendo dela constitutivos são, infelizmente utópicos, pois os interesses dos países, o realismo, a eles se sobrepõem existindo mesmo alguns dos signatários, que o fizeram sem qualquer espécie de convicção, pois as civilizações de onde emanam os não consideram nos seus próprios valores culturais.

Aquando do último Campeonato do Mundo de Futebol, a comunicação social mundial se mobilizou contra o Qatar, por este não cumprir os Direitos Humanos, e como tal, deveria ser objeto de ostracização, boicote e se calhar ser banido do próprio Sistema Internacional, algo eticamente, moralmente e politicamente correto, no entanto, mais uma vez os interesses do Realismo político se sobrepõe e sempre se sobreporá à utopia liberal, pois quer os interesses do futebol, quer os interesses de todo o Ocidente no gás natural, na altura, se sobrepôs aos Direitos Humanos, pois o Campeonato ocorreu quando os países da UE necessitavam de gás natural, pois todos eles tinham deixado de dele se fornecerem na Rússia, facto que inclusive levou a maioria dos seus governantes a se deslocarem em visitas oficiais ao Qatar e a assistirem ao campeonato, contra a corrente orquestrada pela comunicação social.

Espero que a comunicação social mundial e portuguesa, iniciem uma campanha contra as candidaturas quer da Arábia Saudita, quer a conjunta de Portugal, Espanha e Marrocos, à Organização do Campeonato do Mundo de Futebol a que estão a concorrer, porque quer a Arábia Saudita quer Marrocos não cumprem cabalmente os Direitos Humanos, e no caso de Marrocos em especial, este estar a travar uma guerra injusta condenada pela ONU, no Sahara Ocidental, onde inclusive já tivemos militares portugueses em Missão da ONU para a tentar monitorizar.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma