Geral Opinião

O ataque ucraniano à ponte na Crimeia e a resposta Russa

No sabre que aprendi “In ilo tempore” na Academia Militar, o juiz-árbitro analisava o desempenho de ambos os atiradores, até que um deles fosse atingido, parando imediatamente o assalto, para verbalizar o que tinha visto e dar o seu veredito sobre qual dos dois tinha sido atingido, e atribuía um ponto ao adversário.

Normalmente o juiz explicava todos os ataques, e os contra-ataques, até à atribuição do vencedor daquele assalto, que a título de exemplo seria verbalizado da seguinte forma: ataque, parada, contra-ataque, resposta até à atribuição do vencedor do assalto, sendo que havia mais que um assalto até ao fim do combate.

O que se está a passar como consequência do ataque ucraniano à ponte que liga a Rússia à Crimeia, foi um ataque ucraniano, contra-ataque da Rússia e ficamos à espera da resposta ucraniana, num assalto que não me parece ter fim à vista, em que ambos os contendores apelidavam o outro de terrorista.

De acordo com o conceito de terrorismo, não podemos chamar a nenhum dos contendores de terrorista, na verdadeira aceção da palavra, pois embora o conceito seja naturalmente contestado, como todos os conceitos de Ciências Sociais e Humanas, dado que entre ambos existe uma guerra desumana, como consequência da invasão ilegal da Ucrânia por parte da Rússia, facto que legitima todas as respostas do defensor contra alvos militares, e contra todas as linhas de comunicação russas, e ilegaliza todas as ações da Rússia e do seu aliado a Bielo Rússia, sendo que em qualquer dos adversários, os ataques diretos contra alvos civis, são crimes de guerra tipificados  pela Conceção de Genebra e como tal todos os intervenientes nesses crimes, são passíveis de serem julgados pelos tribunais internacionais.

Posso concluir que a Rússia escalou o conflito na resposta ao ataque Ucraniano à referida ponte, com meios exclusivamente convencionais, o que significa que a dissuasão nuclear, tal como definida na guerra-fria, continua a funcionar, ou seja, continua a haver racionalidade no uso desses meios.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma