Camões refere nos Lusíadas os heróis, como aqueles que da lei da morte se libertaram, ou seja, traduzindo para os nossos tempos, aqueles que fizeram por qualquer motivo a diferença, que deixaram uma marca indelével na sociedade onde viveram, qualquer que tenha sido o seu legado, militar, cultural, desportivo, de beneficência e dedicação ao próximo, enfim, aqueles que saíram da norma, da mediania destacando-se pela positiva, qualquer que tenha sido a sua ideologia, ou crença religiosa.
O escritor José Saramago foi um desses portugueses, que da lei da morte se libertaram, tendo a sua obra sido reconhecida internacionalmente com um prémio Nobel da literatura, algo único na literatura portuguesa.
No decorrer do corrente e do próximo ano, que teve início há dois dias, o escritor perfez 100 anos sobre a data do seu nascimento, estando por esse facto a ser homenageado a nível nacional, tendo inclusive já sido condecorado, a título póstumo com a Ordem de Avis, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Tendo José Saramago escrito um dos romances mais importantes da sua carreira, baseado na construção do Real Edifício de Mafra, a que apelidou de Memorial do Convento, tendo a ele ficado indelevelmente ligado, a edilidade de Mafra tem, em minha opinião, a obrigação de participar formalmente nesta efeméride, prestando-lhe uma devida homenagem, em termos formais, atribuindo-lhe eventualmente uma condecoração municipal, ou as chaves da vila, bem como em termos culturais em conjugação com a direção do palácio que ele divulgou mundialmente, independentemente da cor política do Município ser diferente da do escritor na sua vida terrena, e da nossa apreciação crítica e pessoal sobre a obra do escritor, factos que nesta efeméride não devem ser chamados à colação.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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