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Irá a França vai entrar na guerra da Ucrânia com tropas?

Foto: Valor Económico

Tendo estado na União Europeia na altura que esta assumiu o papel então entregue à UEO e anos subsequentes, e não estando a UE preparada para assumir os assuntos relativos a segurança e defesa, ou seja, não tinha nenhuma estrutura levantada para o efeito, o grupo a que pertenci, inicialmente só para desenvolver capacidades militares, era chamado para tudo, assim assumiu  desde o papel de “expert militar”, até ao papel político de grupo de aconselhamento dos embaixadores no COPS, algo que me fez ter uma visão global da UE, e dos interesses divergentes dos estados-membros nestas matérias, bem como do exigente processo negocial necessário para atingir consensos e equilíbrios.

A França, o verdadeiro motor deste processo, cansada de não ver progressos a determinada altura pressionou a UE a entrar em operações militares por forma a credibilizar-se externamente nesta área onde nunca se tinha envolvido, e a Operação na Republica Democrática do Congo, foi a operação que escolheu para o assunto, uma área do seu interesse estratégico, e como fez sempre a partir daí, entrou no conflito inicialmente sozinha, e manobrou internamente no Conselho Europeu tendo em vista que a operação passasse a ser da UE, algo que conseguiu com êxito, pois a operação inclusive teve o apoio de Portugal, um dos países mais atlantistas da UE, na altura.

A partir dessa operação, as operações no antigo espaço francófono têm-se sucedido, sendo que este espaço no norte de África e Sahel, é também um espaço de interesse estratégico para nós e para o flanco sul da Europa, tendo até conseguido arrastar a contra-gosto a NATO para o conflito Líbio, só porque na altura a UE não dispunha de munições inteligentes e não se queria que houvesse muitos danos colaterais.

A Rússia tem estado ultimamente a desestabilizar o espaço de influência francófono em África, as suas neo-colónias, cujas finanças são controladas pelo Banco de França, no sentido de delas retirar recursos naturais e ganhar influência política no ora dito sul global, algo que está a preocupar a França e que nos também deveria preocupar, pois a entrada da Rússia no flanco sul da Europa também nos faz temer pela nossa segurança.

A França de Macron ao reunir os chefes de Estado Europeus em Paris, e ao afirmar que quer entrar com soldados na Ucrânia, na minha perspetiva, está a querer fazer o que fez nos primórdios, vai entrar e posteriormente espera convencer os países europeus a segui-la, independentemente da NATO. Vamos ver se consegue a quadratura do círculo, algo que pode ser uma manobra arriscada.

Neste sentido de acordo com as informações que disponho, hoje a França está internamente a refletir sobre a sua eventual entrada na Ucrânia, numa altura em que os EUA estão a não querer apoiar a Ucrânia e que o próprio povo americano também parece não se querer envolver mais neste conflito, e que como já sabemos sendo a estratégia inimiga do vazio, alguém vai entrar na guerra.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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