Geral Opinião

Considerações sobre a entrevista de Henry Kissinger

GQ

Todos os países onde passava a antiga rota da seda, o caminho terrestre que ligava no passado o Ocidente ao Oriente, são atualmente motivo de interesses importantes no jogo de equilíbrio de poderes entre as potencias, a que assistimos diariamente, a que a guerra na Ucrânia não é alheia, pois alguns deles para além de terem reservas de gás natural relevantes, e de petróleo, estão também na área de influência da Rússia e da China.

A China definiu no seu novo conceito estratégico que tem como objetivo estratégico construir uma autoestrada que passa tendo por base essa antiga rota, sem o desvio do sul que passava no Afeganistão, ou seja, para a China os países por onde essa nova autoestrada e eventuais gasodutos que por ela paralelamente passem, passam a constituir um objetivo estratégico relevante, onde a China passou a  ter interesses estratégicos, que podemos classificar como importantes, pelos quais “in extremis” poderão ser passíveis de por eles se lutar e morrer.

A maioria desses países pertenciam à ex-URSS e continuam a estar na área de influência da ora Federação Russa sua herdeira, sendo também países onde esta, por esse motivo, tem interesses estratégicos importantes, ou seja, à semelhança da Ucrânia poderá eventualmente intervir militarmente, e por eles lutar e morrer.

Os EUA por sua vez também têm interesses estratégicos importantes na maioria desses países, pois para além do potencial energético que alguns deles têm no seu subsolo, são também impotentes, pois se conseguirem neles ter influência, poderão a partir deles contrariar e opor-se à China, o atual seu adversário estratégico e concomitantemente ao seu antigo inimigo a Rússia.

Pelos motivos referidos havendo conflitualidade de interesses na região dificilmente nela haverá paz, e a eventual e tão propalada parceria estratégica privilegiada entre a Rússia e a China a existir, o que pessoalmente duvido, é uma parceria que não passa de conjuntural, conforme expressou o realista político Henry Kissinger na sua última entrevista publicada esta semana num jornal de referencia dos EUA, que teve a duração de cerca de outo horas, como seu último legado político na comemoração do seu centésimo aniversário.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

Acerca do autor

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva

Adicionar comentário

Clique para comentar