Opinião

Ceuta a ferro e fogo

Ceuta, praça-forte que já foi do Reino dos Algarves de além-mar, onde morreu o Infante Santo Dom Fernando, está a viver uma crise migratória sem precedentes, devido à autorização, concedida pelo governo de Espanha, de tratar o líder da Frente Polisário, por este se encontrar doente com Covid.

A Frente Polisário tem como objetivo libertar a região do Sahara Ocidental do Reino de Marrocos, estando em litígio com este país há várias décadas, razão pela qual existe na região, quase que em permanência, uma força da ONU denominada por MINURSO, que já foi liderada por alguns oficiais Generais Portugueses.

O facto de Espanha estar a assistir sanitariamente o líder da Polisário, levou a que Marrocos abrisse as fronteiras que tem com Ceuta, rasgando contratos de contenção de migrantes transfronteiriços assinados com Espanha e com a União Europeia, facto que permitiu que milhares deles de imediato, invadissem o território de Ceuta, tendo como objetivo final virem trabalhar para a Europa.

A “invasão” de migrantes, em busca de uma melhor vida em território da União Europeia, de que Ceuta é o mais recente episódio, tem constituído um grande desafio para a União Europeia, que não tem conseguido geri-lo, nem eficiente, nem eficazmente, tendo inclusive tomado atitudes contra o espírito dos tratados e contra a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, ou seja, atos inconstitucionais, partindo do princípio que esses diplomas para a
União Europeia têm o valor semelhante ao duma Constituição Nacional.

A dificuldade em gerir a crise migratória não é alheia ao medo da extrema-direita, de que o Vox Espanhol tem sido um excelente intérprete, e no caso em apreço um agente provocador, ao promover no território de Ceuta uma manifestação ilegal contra a migração, agravando a crise já de si complexa.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva