Partindo do pressuposto que, no atual contexto de Pandemia, e de crise económica, com o Presidente da República em fim de mandato e nas vésperas de iniciarmos um período de seis meses, em que rotativamente, assumimos a Presidência do Conselho da União Europeia, e que pelos motivos elencados o governo em funções não pode cair, vou analisar as brincadeiras e amuos, dos diferentes partidos, em volta da necessária aprovação do Orçamento para 2020.
O Orçamento Geral do Estado vai passar na Assembleia da República com os votos do PCP. A realização da festa do Avante, parece já ter servido para alguma coisa. Os favores pagam-se, não há almoços grátis, e parecendo que não, tendo sido o pai do primeiro ministro filiado no PCP, António Costa é uma espécie de filho pródigo em relação à família política paterna, que não professou, mas que dela, se tem vindo paulatinamente a aproximar o suficiente para conseguir manter-se no poder, mesmo sem ter firmado um acordo prévio com o PCP que, pensou não vir a precisar, e pelos vistos com toda a razão.
Jerónimo de Sousa reforça o estatuto de estadista, e será visto pelo eleitorado como o Salvador do Governo, do país e da Pátria, em plena Pandemia, facto que poderá render-lhe alguns votos no futuro, dos tradicionais votantes do PS da sua ala mais à esquerda, a ala liderada pelo atual ministro Pedro Nuno Santos.
Jerónimo de Sousa provavelmente, no passado, fruto da sua vetusta idade, andou com António Costa ao colo, nos corredores da sede na Avenida da Liberdade, e continua a andar, embora não concordando totalmente com as políticas do governo, aprendeu a lição, quando se juntou à direita para derrubar o governo de José Sócrates, tendo com essa atitude indiretamente viabilizado que ela governasse no período da Troika, de tão má memória, e que tantas cicatrizes deixou mesmo no eleitorado da classe-média de direita.
O atual dirigente do PCP, ao contrário de Catarina Martins do BE, fiel à tradição iniciada após 1975, deixou de ter pretensões de integrar qualquer governo, facto que tranquiliza mais o atual primeiro-ministro que, quer governar sem maioria absoluta, como se a tivesse.
A Catarina Martins, por sua vez, dá mostras de estar amuada, queria ter ido para o governo, mas o primeiro-ministro não lhe deu, felizmente a mão, pelo que desta vez, e sem razão aparente, decidiu votar contra o Orçamento Geral do Estado, a pretexto de não querer que o governo cumpra o contratualizado( com o fundo de Investimento Lone Star, aquando da venda do Novo Banco.
A recusa do BE em impedir que o governo transferia mais cera de 900 milhões de Euros para o fundo, é extemporânea e irracional, por ser alheia ao facto que, o não cumprimento do contrato de venda do NB ao fundo, obrigaria o estado português a ter de lhe pagar uma avultada indemnização, após decisão judicial do tribunal internacional competente para julgar o caso, designado no próprio contrato.
O BE vai voltar a ser o partido irresponsável de protesto, e vai fazer coro com Ventura. Os dois partidos das extremos vão querer disputar os votos de protesto, indo com esse fim gritar, cada um mais alto que o outro, na AR e no país.
Rui Rio, a pretexto duma declaração de António Costa irrefletida, de que mal estaria o governo se tivesse que se aliar à direita para governar, desta vez desiludiu-me, pois com este pretexto foi contra as suas próprias convicções, postura de estadista e diversas declarações, que tem proferido, afirmando repetidas vezes, que em tempo de Pandemia e de crise económica, não seria um obstáculo à atual governação, e não seria o gerador duma crise política, tendo cedido completamente à ala populista e caceteira do PSD, embora só o tenha feito depois de ter percebido, que o orçamento passaria, com os votos do PCP.
Enfim a ópera bufa que temos assistido é um espetáculo degradante e viciado à partida, pois pelos vistos todos sabiam que o PCP, salvaria “in extremis” a honra do Convento.
Vá ser um ano político pontuado por irresponsáveis e populistas. Haja paciência.
Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva
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