Opinião

AGREDIR PESSOAL MÉDICO pode ser moda

HÁ COISAS ASSIM…”POTPOURRI”

Há praticamente um ano e meio, falámos da possibilidade de ocorrerem actos de violência por parte de doentes insatisfeitos com o Serviço Nacional de Saúde nomeadamente nos hospitais. Falámos sobre isso com o médico que nos atendeu, numa consulta no Hospital de Santa Maria, e a resposta foi: “É por essas e por outras que me vou embora para o privado e até vou ganhar muito mais.” Carimbou a receita ou a guia para voltar lá daqui a 6 meses.

Presenciámos e fomos a prova provada de que funciona mal o serviço de consultas externas no Hospital de Santa Maria. Ainda, e ao longo de quatro anos, temos por exemplo uma consulta marcada pelo serviço do Posto Médico da Ericeira, que ainda não foi concluída. Um ano de espera, depois foram exigidos exames nunca realizados por inépcia dos serviços do Hospital de Santa Maria. Ou por a máquina estar avariada, ou por falta de pessoal e assim se passaram mais dois anos. Neste período a consulta marcada para o médico analisar os exames foi adiada, justificadamente, por não haver exames a verificar. Está prestes a chegar a nova data da consulta adiada, mas sem haver os exames, será logicamente para adiar…sine die.

Todo o modo, para essa consulta o doente terá de se deslocar da Ericeira até ao Hospital e no fim para lá chegar e fazer perder tempo ao médico e apenas e só para marcar outra consulta da especialidade, até ter exames.

Trata-se de uma consulta, com um médico especialista que terá mais gente para atender, e de uma possível doença fatal, numa boa quantidade de doentes.

Alguém acredita que isto é forma de tratar doentes e ao longo de 4 anos? Naturalmente que se fosse caso de morte, já teria acontecido, ou poderá estar, de tal forma sem hipótese de tratamento com o tempo que já passou. Alguém se rala?

E alguém sabe como estão, e como se sentem, os doentes (às centenas) na sala de espera para a consulta externa no Hospital, após uma viagem de longe, de madrugada, para lá estar à hora certa. Passar por filas para mostrar a papelada, numa máquina automática (que precisa de uma funcionária para carregar nos botões), ir para outra fila para a Sala de espera e por fim aguardar por ser chamado em dois locais distintos. É dar cabo da mioleira a qualquer um.

Mas o pior, é olhar para o lado e analisarmos a maioria dos outros doentes…alguns até dependentes de quem os acompanhe, o modo de espera…o modo de impaciência…o modo revoltado quanto à sua pequenez e falta de importância no meio desta multidão de centenas de pacientes…, doentes (senão estariam em casa), insatisfeitos e carentes pelo seu estado sensível…com os nervos à flor da pele …e de certa maneira ostracizados.

Primeiro por estarem doentes, segundo por não terem dinheiro para poderem ir a um médico bom e privado. Terceiro, sendo um pagante de impostos, sem nunca ter baixas, merecia mais do que ser um número, ali perdido, ao longo de anos para saber se vai safar-se…ou morrer por não ter sido tratado a tempo.

Na CUF/Mafra (a título de exemplo) um médico especialista pode ser marcado praticamente de um dia para o outro. Comparando com 4 anos e ainda estar a meio do percurso?!

Tudo isto pode não merecer, ou não deve ser tratado com violência…mas por vezes é difícil conseguir soluções de outra forma. ou pelo menos evitá-la.

E mesmo paciente e ordeiro por vezes apetece subir para uma cadeira e em voz de comando clamar a todos, os que ali esperam e desesperam horas… e doentes, que se revoltem, que obriguem quem ali está… a ser tratado com um mínimo de dignidade e não como mais um numero, sem interesse, sem marca a não ser para carimbar mais logo…para ali regressar daqui a meses. Não necessariamente com actos de violência mas de forma assertiva e sem deixar dúvidas ao pessoal menor ou ao pessoal administrador.

Isto não é Serviço Nacional de Saúde a tratar doentes…isto é adiar para morrer sem dignidade, sem profissionalismo… do servente, ao escriturário e por aí fora …até ao médico.

Ninguém tem culpa.

Pelo contrário – Somos todos nós que temos culpa por permitirmos ser tratados desta maneira. Isto não pode continuar a ser assim. Ou pode?

Digo eu, não sei…que não sou nenhum malandro.

Helder Martins