Geral Opinião

A Madeira do meu descontentamento

Foto: Jornal Económico

Só fui à Madeira uma vez na vida, e durante o meu curso de Estado Maior, na altura em que João Jardim era o “rei” todo-poderoso daquele território autónomo, em que a região estava a trabalhar no sentido de se tornar uma  “off shore” para concorrer com outras congéneres, no sentido de atrair capital externo, por vezes de duvidosa proveniência, e quando Jardim estava a pressionar o governo nacional liderado pelo PSD, para atuar de acordo com os seus objetivos, ameaçando se este o não fizesse, que os deputados do PSD eleitos pela Madeira podiam retirar o apoio ao governo central, que deles necessitava para aprovar leis e para em última análise poder governar.

O meu curso foi recebido principescamente por João Jardim, e antes do lauto banquete com que nos brindou, proferiu uma pequena palestra em que falou da Madeira e dos seus objetivos políticos. No final da palestra, na altura das três perguntas obrigatórias que o curso tinha de fazer, mesmo que as não tivesse, coube-me a mim cumprir a praxis académica de questionar João Jardim, o que fiz com agrado tendo-lhe perguntado, se tinha a intenção de continuar a pressionar o governo ameaçando-o de lhe retirar o apoio, e em última análise fazê-lo cair, ao que este me respondeu colérico e “tout cout” que se eu não fosse militar e seu convidado me expulsaria imediatamente da sala.

Após ente desagradável incidente, uma jornalista local que se encontrava na sala fez uma pergunta a João Jardim, tendo sido imediatamente expulsa da sala pela segurança do palácio do governo regional.

Consegui perceber o que era o conceito de democracia liberal da ilha, que era o oposto a tudo o que ingenuamente ainda pensava sobre a liberdade de imprensa e o direito de opinião.

Nuno Pereira da Silva
Coronel na Reforma

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