Opinião

A importância estratégica da viagem do Papa Francisco ao Iraque

No Iraque existe uma comunidade de Cristãos apreciável, que vive no território desde os primeiros tempos do Cristianismo e que tem conseguido conviver, mais ou menos pacificamente, com as tribos Xiitas e Sunitas que vivem no território, nomeadamente a norte e a sul.

O Iraque é um mosaico de tribos, com os seus chefes tribais, que mesmo na cidade de Bagdad vivem em bairros com fronteiras tribais.

As tribos estão representadas na segunda Câmara do Parlamento pelos respetivos chefes tribais, nesta Câmara também se encontra como representante dos Cristãos o Bispo, que a eles está equiparado.

Os Cristãos vivem perto de Kirkuk, numa região designada por triângulo de Ashura, situada a norte do país, bem como também vivem juntos num bairro da capital.

Sadam Hussein, o ditador deposto pelos EUA na sequência do 11 de Setembro, embora fosse Sunita, normalmente na véspera do Natal tinha por hábito ir à catedral, à missa do galo e, tinha no seu governo ministros cristãos.

Há uns anos, já depois da invasão do Iraque, houve uma perseguição aos Católicos na região de Ashura, após ter sido descoberto petróleo na zona, por motivos alheios à fé que professavam.

Pelo referido, a ida do Papa Francisco ao Iraque, na próxima semana, vai ser uma grande festa para a comunidade minoritária Cristã num país Islâmico, e simultaneamente, vai ser um grande passo e sinal fundamental para a paz e para o salutar convívio entre religiões, que partem dum troco comum, na terra de Abraão.

O pensador ocidental que mais influenciou a invasão do Iraque pelos EUA, foi Samuel Huntington, no seu livro “O Choque das Civilizações” que preconizava que, estas com as diferentes religiões que as informavam, constituiriam uma grave ameaça para o Ocidente e para os EUA em particular.

A viagem apostólica de Francisco ao Iraque, a primeira dum líder Católico à região, e o encontro que vai ter lugar com um dos líderes Xiitas mais importantes do Sul do Iraque, o Imã Ali Al Suatani, constituirá uma mudança radical do paradigma da guerra, nem sempre fria, milenar entre religiões, sendo em minha opinião, um passo importante no caminho para
construção da paz no mundo, comparável à abertura, e posterior queda da cortina de ferro que dividiu a Europa, iniciada por São João Paulo II na Polónia.

Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva

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